11/07/2020
Ataque: em meio à pandemia, Paulo Guedes ameaça avançar nas privatizações no Brasil
Em um momento de crise sanitária, social e política, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que nos próximos 90 dias devem ser anunciadas “três ou quatro” privatizações. A entrega das estatais brasileiras para o setor privado é uma política que sempre guiou o governo Bolsonaro e seu ministro da Economia. Para Luís Miguel, professor de ciência política da Universidade de Brasília, essa medida em um momento de pandemia é uma estratégia para passar despercebido pela sociedade e não gerar mobilizações populares.
“Ele está anunciando agora que quer privatizar nos próximos 90 dias, 4 grandes empresas públicas. mas não diz quais são elas. Ou seja, não permite que a sociedade reflita sobre as implicações da transferência para as empresas privadas para o patrimônio público, não permite que a sociedade se pronuncie, não permite que o debate seja aprofundado. É por isso também, que ele vê a pandemia de coronavírus como uma janela de oportunidades para fazer ainda mais rápido o projeto de privatização”, explica o professor.
Mesmo não detalhando quais empresas serão privatizadas nos próximos meses, Guedes sempre indicou as estatais que visa priorizar, como os Correios, a Caixa Econômica Federal e a Eletrobrás. Para Fabiana Uehara, secretária de Cultura e representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) nas negociações com a Caixa, é muito importante a mobilização da sociedade civil na defesa das instituições públicas.
“A privatização não nos interessa, não interessa a população. Por que quando você privatiza, você tira o que é de todos e dá apenas para alguns e isso que é a questão do serviço privado. Não é para todos, é para uma minoria que pode pagar. Então quando a gente luta pelo fortalecimento das estatais, nós lutamos para poder levar mais dignidade, melhor atendimento, melhores serviços para toda a população. E nesta luta, estamos lutando pela Caixa 100% pública, por que é uma empresa centenária, que leva dignidade, leva bancarização e atende a toda a população”, afirma.
O presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região, Roberto Carlos Vicentim, reforça que, por se tratar de um tema tão relevante para o futuro do Brasil, é fundamental que a sociedade se organize e amplie os espaços de discussão.
"É necessário que a população esteja ciente da importância das empresas estatais para que, assim, possamos fortalecer a construção da resistência contra os ataques às conquistas dos brasileiros. O Sindicato já participou de inúmeras iniciativas neste sentido, seja promovendo o debate através de audiência pública, com bancários e clientes nas agências e também em atos públicos. É essencial desmistificar o debate sobre as privatizações e, para isso, é preciso entender o papel das estatais no desenvolvimento do Estado brasileiro, seus resultados financeiros e sua influência na economia do Brasil. Os bancos públicos, por exemplo, são importantes nas mais variadas esferas do país, como a agricultura familiar, infraestrutura, saneamento, financiamentos habitacionais, financiamento estudantil, FGTS, entre vários outros. Todas estas políticas públicas estão sob ameaça com a implantação da política privatista do atual governo", explica Vicentim.
Com um ambiente democrático já bastante fragilizado, Luís Miguel considera que o pacote de privatizações do governo expõe ainda mais a relação direta do estado com o grande capital, desamparando o povo brasileiro.
“O que a gente vê cada vez mais é a degradação do debate democrático. Um debate que deveria envolver a sociedade. Um debate que deveria colocar a sociedade como participante da tomada de decisão e é essa degradação para satisfazer os interesses do mercado”.
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