18/02/2016

PCDs são alvo de série demissões; Sindicato repudia e exige reversão

A rotina do bancário João (nome fictício) era igual à de vários colegas do Santander. Pegava condução cedo, que o deixava praticamente na porta de uma das concentrações do banco onde tinha de percorrer vários metros até chegar ao seu setor. Nada demais, não fosse o fato de ele ser deficiente físico com dificuldades de locomoção e sem que o Santander se preocupasse em colocá-lo em setor mais próximo da portaria.

“Sempre enfrentei tudo com garra. Trabalhei no Santander por quase quatro anos até ser demitido por ‘baixa performance’ determinada pela nota 2 na avaliação do programa de remuneração variável”, relata o bancário, acrescentando ter sido prejudicado em função de o banco não ter política adequada para pessoas com deficiência (PCD). “No ano passado fui transferido várias vezes de setor. Era sempre do tipo: se vire aí. Sem explicações ou qualquer treinamento para cada nova função. Isso prejudicou meu desempenho. Fui injustiçado, pois não me deram as condições adequadas para trabalhar.”

O dirigente sindical José Roberto Santana, do Sindicato dos Bancários de São Paulo, considera que a demissão de João integra uma série de dispensas direcionadas a pessoas com deficiência que têm ocorrido desde o início de fevereiro. “Temos relatos que isso está acontecendo em várias partes do país. Estamos cobrando do Santander que sejam revistas e os trabalhadores reintegrados. Não apenas por serem PCDs, mas também pela forma descabida como ocorreu o rebaixamento de notas.”

Segundo José Roberto, nos casos que acompanha a prática é a mesma: a pessoa com deficiência recebe a nota 2 e em seguida é demitido. “Já cobramos do banco quais são os critérios que estabelecem quem pontua mais, para receber bônus, ou ganha nota 2, para ser perseguido ou demitido. Estão sendo cometidas muitas injustiças e os trabalhadores são duramente penalizados.”

A avaliação do programa próprio, questionada pelo Sindicato, tem pontuação de 1 a 5. Ganha bônus quem tem nota a partir de 3. Abaixo disso, além de não receber nada, mesmo trabalhando muito o ano inteiro, não recebe e ainda corre o risco de ser demitido.

Demitida e endividada

Outro exemplo de injustiça é o da bancária Nilma (fictício). Também com deficiência, ela conta que jamais havia recebido nota 2, em seus mais de quatro anos de banco. A maior comprovação de seu bom desempenho é que conseguiu o chamado crédito consciente do Santander. Segundo a trabalhadora, entre os requisitos para ter acesso a essa modalidade de empréstimo é ter aval do Recursos Humanos e do gestor da área e não ter nota inferior a 3 nas avaliações.

“Fiz uma dívida enorme de 60 meses para poder pagar meu apartamento. Paguei um ano e agora estou desempregada. Não sei como vou fazer para quitar o restante. O pior é que não houve qualquer explicação. Deram a avaliação e falaram que estava dispensada. Mas como é possível? Jamais tive nota 2”, indigna-se a trabalhadora.

Falta transparência

A diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Maria Rosani, ressalta que o Santander é constantemente cobrado nas reuniões do Comitê de Relações Trabalhistas (CRT) para que forneça os dados que envia ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para a composição do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). “O banco diz que cumpre a lei relativa à cota para pessoas com deficiência. Se é verdade, por que não fornece esse relatório? Com essas informações teremos condições de atuar mais decisivamente na luta dos direitos desses trabalhadores.”
Fonte: Seeb SP

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