08/03/2019
Rita Serrano: Mulheres da Caixa Econômica Federal - trajetória, obstáculos e avanços
Por Maria Rita Serrano*
A Caixa Econômica Federal é o único banco brasileiro feminino até no nome. Essa curiosidade já resultou em campanha da empresa no ano de 2014, justamente para homenagear as mulheres naquele 8 de março. Instituição financeira pioneira na contratação de mão de obra feminina, no começo do século passado (a primeira mulher bancária ali foi Aurora Gouveia, em 1921), a Caixa e suas empregadas chegam a 2019 com uma relação solidamente estabelecida: avanços foram conquistados ao longo dos anos, mas ainda é necessário ultrapassar barreiras para construir um ambiente de ampla igualdade no trabalho.
Embora as mulheres representem quase metade da mão de obra no sistema financeiro brasileiro, somente 8% dos cargos executivos são ocupados por elas. A Caixa se destaca nessa área. Foi o único banco que teve mulheres na presidência: a primeira foi Maria Fernanda, seguida de Mirian Belchior. Fui a primeira mulher eleita para o Conselho de Administração. Mas, mesmo com esses avanços, dados de 2017 mostram que 27% dos cargos de chefia na Caixa eram ocupados por empregadas.
No entanto, estudo recente (2017) realizado pelo banco revela que, se por um lado as trabalhadoras reconhecem que a empresa promove condições para o desenvolvimento de competências no exercício de funções gerenciais de forma igual a homens e mulheres, por outro sentem-se preteridas em processos seletivos nos quais as bancas tendem a preferir pela aprovação de homens. E esse, sem dúvida, é um sinal de alerta de que ainda há muito a conquistar.
Intitulada Mulheres, Carreira e Lideranças, a pesquisa aponta em suas considerações finais que as respostas obtidas caracterizam o chamado “teto de vidro”, descrito na Cartilha de Diversidade Caixa (2015). Significa que as empregadas sentem que existem, sim, obstáculos à ascensão de carreira, mas muitas vezes não os associam com a desigualdade de gênero. Aliado à discriminação, as mulheres continuam sendo as principais responsáveis pelas tarefas domésticas, cuidados com filhos e família, o que a obriga a dupla e até tripla jornada de trabalho.
Infelizmente, quanto menos poder e representatividade, mais difícil serão as conquistas em todas as áreas e segmentos. Somos vítimas de feminicídio, de assédio moral e sexual, preteridas em seleções, sobrecarregadas de funções e responsáveis por múltiplos papéis no dia a dia. Com tudo isso, nos tornamos naturalmente resistentes, mas é preciso ir além para exigir o espaço que nos cabe, seja no trabalho, seja na vida.
E esse espaço não é uma parte ou a metade: é por inteiro, para que de forma plena possamos exercer nosso trabalho e cidadania. A igualdade desejada humanizará as relações entre mulheres e homens e tornará a sociedade mais justa e fraterna. Vamos juntos construir esse caminho.
*Maria Rita Serrano é representante dos empregados no Conselho de Administração (CA) da Caixa, diretora da Fenae e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas.
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