19/09/2017
Economia é escancarada ao exterior sem nenhuma estratégia de proteção ao país
Por Marcio Pochmann*
Sob o governo Temer, a entrega do Brasil tornou-se contínua, e o ingresso de investimentos estrangeiros volta-se fundamentalmente à compra de ativos nacionais, públicos e privados. É a terceira vez que a economia nacional se abre ao exterior, e mais uma vez sem nenhuma estratégia prévia de desenvolvimento, conforme observado anteriormente.
A primeira onda de internacionalização da economia brasileira desde a Revolução de 1930 transcorreu na segunda metade da década de 1950, em conformidade com o Plano de Metas de JK (1956–1961). Com o grande fluxo de ingresso do capital estrangeiro, o país avançou significativamente a sua industrialização, através da instalação de grandes grupos econômicos inicialmente europeus e, posteriormente, estadunidenses.
Diante da coordenação do Estado, os investimentos externos se combinaram à soma dos recursos internos derivados do capital privado nacional e estatal. Assim a industrial automobilística, por exemplo, se instalou sem trazer a sua autopeça, uma vez que esta seria ocupada por empresas de capital nacional, enquanto outros componentes industriais seriam ofertados por empresas estatais (siderurgias).
A segunda onda de internacionalização foi uma marca dos anos de 1990, com o ingresso do Brasil na globalização. Com as reformas neoliberais em concomitância com a estabilização monetária do Plano Real, a economia nacional registrou 2,3 mil operações de fusões e transações de empresas, sendo 61% de responsabilidade do capital estrangeiro.
A aquisição de grande quantidade de empresas nacionais por estrangeiras não significou expansão da capacidade de produção, uma vez que parte considerável dos investimentos voltou-se fundamentalmente apenas para a troca de ativos de um grupo econômico para outro. Ou seja, certo ingresso passivo e subordinado do Brasil na globalização.
Nos anos 2000, o país experimentou experiência inédita, com importante ação de empresas nacionais no desenvolvimento de suas atividades no exterior para diversos setores (como bebidas, alimentação, construção civil, vestuário, bancos, ferramentas entre outros). Na primeira década deste século, a internacionalização de grandes empresas brasileiras alcançou a 17 países, enquanto entre 2010 e 2015, o crescimento foi de 50%, passando para 27 países no mundo.
Com a recessão, a Operação Lava Jato e as operações desconstitutivas do governo Temer, diversos grupos brasileiros passaram a colocar seus ativos à venda. Somente o movimento de fusões e aquisições cresceu 73,6% no primeiro semestre de 2017.
Neste contexto, se expande no Brasil a terceira onda de internacionalização deslocada de qualquer estratégia de desenvolvimento. O recente anúncio de privatização do setor produtivo estatal pelo governo Temer demonstra muito mais o despreparo e desespero para atrair recursos externos numa economia frágil pela força da recessão.
A queda na taxa de investimento agregado não é ainda maior devido ao ingresso de recursos estrangeiros que se aproximam de um quinto da Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF). Com as possibilidades de aquisição de terras, a internacionalização dos ativos nacionais ganha ainda mais atratividade, tornando o Brasil o país dos grandes negócios desatrelados do bem-estar de sua população.
*Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.
Fonte: Rede Brasil Atual
A primeira onda de internacionalização da economia brasileira desde a Revolução de 1930 transcorreu na segunda metade da década de 1950, em conformidade com o Plano de Metas de JK (1956–1961). Com o grande fluxo de ingresso do capital estrangeiro, o país avançou significativamente a sua industrialização, através da instalação de grandes grupos econômicos inicialmente europeus e, posteriormente, estadunidenses.
Diante da coordenação do Estado, os investimentos externos se combinaram à soma dos recursos internos derivados do capital privado nacional e estatal. Assim a industrial automobilística, por exemplo, se instalou sem trazer a sua autopeça, uma vez que esta seria ocupada por empresas de capital nacional, enquanto outros componentes industriais seriam ofertados por empresas estatais (siderurgias).
A segunda onda de internacionalização foi uma marca dos anos de 1990, com o ingresso do Brasil na globalização. Com as reformas neoliberais em concomitância com a estabilização monetária do Plano Real, a economia nacional registrou 2,3 mil operações de fusões e transações de empresas, sendo 61% de responsabilidade do capital estrangeiro.
A aquisição de grande quantidade de empresas nacionais por estrangeiras não significou expansão da capacidade de produção, uma vez que parte considerável dos investimentos voltou-se fundamentalmente apenas para a troca de ativos de um grupo econômico para outro. Ou seja, certo ingresso passivo e subordinado do Brasil na globalização.
Nos anos 2000, o país experimentou experiência inédita, com importante ação de empresas nacionais no desenvolvimento de suas atividades no exterior para diversos setores (como bebidas, alimentação, construção civil, vestuário, bancos, ferramentas entre outros). Na primeira década deste século, a internacionalização de grandes empresas brasileiras alcançou a 17 países, enquanto entre 2010 e 2015, o crescimento foi de 50%, passando para 27 países no mundo.
Com a recessão, a Operação Lava Jato e as operações desconstitutivas do governo Temer, diversos grupos brasileiros passaram a colocar seus ativos à venda. Somente o movimento de fusões e aquisições cresceu 73,6% no primeiro semestre de 2017.
Neste contexto, se expande no Brasil a terceira onda de internacionalização deslocada de qualquer estratégia de desenvolvimento. O recente anúncio de privatização do setor produtivo estatal pelo governo Temer demonstra muito mais o despreparo e desespero para atrair recursos externos numa economia frágil pela força da recessão.
A queda na taxa de investimento agregado não é ainda maior devido ao ingresso de recursos estrangeiros que se aproximam de um quinto da Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF). Com as possibilidades de aquisição de terras, a internacionalização dos ativos nacionais ganha ainda mais atratividade, tornando o Brasil o país dos grandes negócios desatrelados do bem-estar de sua população.
*Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas.
Fonte: Rede Brasil Atual
SINDICALIZE-SE
MAIS ARTIGOS
- Bancários são CLT Premium?
- Primeira mesa com banqueiros vai discutir o emprego bancário
- Algoritmos a serviço do lucro e da propagação do discurso de ódio
- PLR é resultado da luta dos trabalhadores!
- Banesprev: O Plano II e as contribuições extraordinárias
- Impacto da inteligência artificial nos empregos: tecnologia não pode ser vilã
- CABESP: Fraude e Desperdício na área da Saúde
- Reajuste salarial dos bancários representa acréscimo anual de R$ 2,7 bilhões na economia
- Negociação coletiva é o melhor instrumento para tratar das questões do mundo do trabalho
- A Caixa é do Brasil e não moeda de troca política
- Funcef: entrevista exclusiva com presidente Ricardo Pontes
- O que muda com a Reforma Tributária?
- Bancos públicos devem voltar a estimular a economia por meio da oferta de crédito
- Demissão em Massa - Quais são os direitos de quem foi demitido?
- Mulheres à frente de bancos públicos representam avanços em conquistas históricas