Greve Geral de 1917: 100 anos depois, a luta por direitos trabalhistas e sociais continua
O mês de julho marca um período de lutas na história operária brasileira. Há 100 anos, trabalhadores do setor têxtil iniciaram uma greve contra os baixos salários e as longas jornadas de trabalho impostas a homens, mulheres e crianças, que chegavam a durar cerca de 14 horas diárias. Na ocasião, a polícia interveio de maneira truculenta e causou a morte do sapateiro José Ineguez Martinez, de 21 anos. Um protesto generalizado se espalhou por São Paulo e culminou na Greve Geral de 1917.
Esse levante protagonizado pela classe trabalhadora se tornou um marco no processo de construção da identidade operária e sindical no país. Tudo começou em uma fábrica paulista, liderada principalmente por mulheres. O fato marca a trajetória de um movimento e de uma data que se repete há um século e que constitui a crônica direta e sucinta de milhões de seres humanos e de milhares de revoltas. No âmbito internacional, aconteciam a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa.
A Greve Geral de 1917 é nossa, pois pertence aos trabalhadores. Isso está expresso no fato de que esse movimento teve um longo período de maturação. A primeira greve a sacudir a capital paulista ocorrera dez anos antes, sem a adesão de todas as fábricas e estabelecimentos comerciais, embora tenha despertado a consciência política da classe trabalhadora.
As primeiras sementes desse movimento operário surgiram em 1905, quando os anarcossindicalistas substituíram gradualmente a importância das então entidades assistencialistas a partir da fundação, em novembro daquele ano, da Federação Operária de São Paulo, desembocando em 1906 na Confederação Operária Brasileira. Em 1917, foram organizadas ligas operárias em diversos bairros da cidade de São Paulo, que atuavam como células de debate e preparação de materiais impressos de propaganda e agitação.
A Greve Geral de 1917 mudou o curso da organização dos trabalhadores e teve um papel decisivo na criação de uma nova estrutura social no país. Foi importante não só para o fim da Primeira República ou República Velha (1889-1930), mas para as leis de proteção social que surgiram a partir de 1930 e culminaram na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Essa greve, aliás, traz o legado de ser porta-voz de um arrebatador projeto de futuro compartilhado, deixando como lição o princípio de que a consciência da classe trabalhadora precisa estar conectada com seu passado e com sua história.
Agora em julho, movimentos de trabalhadores celebram a data e apontam semelhanças com o momento atual, com risco de perda de direitos trabalhistas. É cada vez mais necessário resgatar um momento de bravura, pois a luta dos trabalhadores continua sendo tratada pelas autoridades policiais e pelo Estado como uma transgressão. As reformas trabalhista e da Previdência, impostas pelo governo Temer, visam colocar a classe trabalhadora nas mesmas condições do início do século 20, destruindo todo o avanço civilizatório conquistado pela luta de José Ineguez Martinez e de outros protagonistas da Greve Geral de 1917.
A luta, a mobilização e a rebeldia são as alternativas possíveis ao caos. O novo é o que é público e comum. A principal riqueza do nosso tempo é permeada por direitos, oportunidades, serviços e espaços públicos dignos para toda a população. Apenas a força da classe trabalhadora organizada, aliada aos movimentos populares e correntes políticas que defendem os interesses do povo, é que poderá reverter essa série de ataques aos direitos sociais, à democracia e à soberania popular.
Fonte: Fenae
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