Entrevista: "Defesa da democracia e da Caixa Federal são urgentes", defende Rita Serrano
Em entrevista, Rita que também é diretora da Fenae, destaca a importância da mobilização e lutas históricas dos empregados do banco
A situação dos empregados da Caixa e os riscos para a sociedade brasileira com as ameaças de privatização do banco estão entre os destaques da entrevista concedida pela representante dos empregados no Conselho de Administração da empresa e diretora da Fenae, Rita Serrano. Ela, que assumiu o cargo como titular há menos de um mês (era suplente na gestão anterior), aborda o enorme interesse dos bancos privados em assumir operações exclusivas da instituição pública, descaracterizando seu papel social, e a necessidade de capitalização por parte do governo. Às vésperas do 33º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa Econômica Federal (Conecef), entre os dias 30 de junho a 2 de julho, em São Paulo, enfatiza ainda a valorosa história de lutas dos empregados do banco e sua participação indispensável nesse momento, para evitar prejuízos a todos os brasileiros. “Temos mais de 95 mil formadores de opinião na Caixa, em todos os cantos do País, lidando diariamente com milhares de pessoas, e é preciso que cada um faça sua parte defendendo a importância do banco para o desenvolvimento do Brasil”, aponta.
Quais são hoje as ameaças para os trabalhadores, e em especial para os empregados da Caixa?
Rita Serrano – Vivemos um momento de grande instabilidade política e econômica, com um governo golpista e um Congresso reacionário, comprometidos com o capital privado, colocando sob risco, com as chamadas “reformas”, direitos conquistados a duras penas pelos trabalhadores. Os meios de comunicação ajudam, impondo uma narrativa de retirada de direitos e privatização do patrimônio público, e os empregados da Caixa vivem nesse cenário de ameaças. O modelo de bem-estar social que estava sendo construindo vai rapidamente perdendo espaço para o Estado Mínimo.
A possibilidade de privatização da Caixa existe? É iminente ou apenas um risco de longo prazo?
Rita – O risco é real, você pode privatizar uma empresa de várias formas. Abrindo o capital é uma delas, e esse era o o teor do projeto de lei do Senado (PLS) 555, mas por ora derrubamos essa possiblidade. Outra forma é a que está sendo adotada nesse momento na Caixa e demais empresas públicas, um verdadeiro fatiamento, venda de ativos, privatização de operações (loterias, seguros, cartões), terceirização dos serviços. Temos ainda que lidar com o apetite dos bancos privados, que querem a gestão do FGTS e do FAT. O desmonte da empresa vai ocorrendo aos poucos, sem estardalhaço. Já tivemos o PDV, o fechamento de agências e áreas-meio anunciados e retirada de direitos.
E exatamente no que os bancos privados estão de olho?
Rita - Estão de olho na fatia detida pela Caixa, 36% do mercado de poupança; 15% dos depósitos à vista, 16% da carteira de crédito e 66% do imobiliário. É importante destacar que os bancos são concessão pública e existem normas que determinam que realizem investimentos sociais, mas de fato só os bancos públicos cumprem esse papel, e além disso o mercado financeiro no Brasil é oligopolizado, pois 5 bancos controlam 86% do sistema.
A direção da Caixa e o mercado vêm anunciando que a empresa terá problemas para se capitalizar. Qual sua avaliação?
Rita - A Caixa está sujeita às regras de Basileia III, cujo prazo para adequação final é 2019. A regra vale para todos os bancos, mas eles vêm se preparando para isso há algum tempo. O correto seria o acionista majoritário da Caixa, que é o governo, capitalizar o banco como ocorreu em anos anteriores, mas o Tesouro afirma que não o fará, e assim sendo a empresa precisa buscar soluções caseiras que envolvem cortes de custos e investimentos, venda dos ativos, aumento de tarifas. Na lista de corte de custos está o debate sobre a resolução nº 33 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que trata dos benefícios a empregados, em especial os chamados benefícios pós-emprego, que envolvem a área de saúde e previdência. A Caixa quer alterar regras do Saúde Caixa para diminuir o provisionamento e, dessa forma, liberar capital, mas isso depende de acordo coletivo. As consequências imediatas dessas ações serão a diminuição do papel do banco no desenvolvimento do Brasil, com menos investimento e crédito e penalização aos empregados. A saída passa pela mudança de governo e pressão para que o Tesouro cumpra seu papel de capitalizar o banco.
Os empregados da Caixa têm uma trajetória longa de lutas e conquistas. Quais instrumentos devem ser usados nesse momento para defender direitos e Caixa pública?
Rita - Resistência ao golpe e debate nos locais de trabalho sobre todas as garantias que estão em jogo são fundamentais para tirar as pessoas da apatia e organizar o contra-ataque. Temos mais de 95 mil formadores de opinião na Caixa, em todos os cantos do País, um baita Exército lidando diariamente com milhares de pessoas, e é preciso que cada um faça sua parte defendendo a importância do banco para o desenvolvimento do Brasil. O desafio contra o desmonte do Estado na década de 1990 e pela manutenção da Caixa pública, mesmo com muitos percalços e perdas, demonstrou nossa capacidade de perseverança, solidariedade e garra. A campanha em defesa da Caixa 100% Pública e contra o PLS 555 foi vitoriosa graças à união de forças, organização e articulação. Entidades sindicais e associativas sempre foram e continuam sendo essenciais para esses enfrentamentos. Portanto, vamos arregaçar as mangas e lutar. Nosso mandato tem compromisso com essa frente de batalha.
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