26/06/2017
Instituto Millenium: Interesses do mercado colocam em xeque as eleições de 2018
Roberto Amaral, coordenador da Frente Brasil Popular, e economista Guilherme Mello concordam com senadora Gleisi Hoffmann: Instituto Millenium deu recado claro contra a democracia no país
As eleições de 2018 correm risco real de não serem realizadas porque ameaçam as reformas do governo Michel Temer ou de um eventual substituto escolhido via eleição indireta no Congresso, caso o peemedebista não tenha fôlego para levar seu “mandato” até o fim. Esse é o recado que está sendo passado por setores vinculados ao mercado, como em evento realizado no último dia 20 pelo Instituto Millenium.
A senadora Gleisi Hoffmann (PR) chamou a atenção para esse risco crescente na quarta-feira (21), da tribuna do Senado. O cientista político Roberto Amaral, um dos coordenadores da Frente Brasil Popular, e o economista Guilherme Mello, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), concordam com a parlamentar.
O risco de um novo golpe que inviabilize as eleições, a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ou ainda utilize a alternativa de mudança de regime “sempre existe”, diz Amaral. “A democracia representativa e o processo eleitoral são acidentes para a classe dirigente brasileira, para a direita. Eles não têm compromisso com o processo democrático. O compromisso deles é com os interesses da casa-grande. Isto que está sendo dito pelo Instituto Millenium era dito em 1963 pelo Ipes (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, criado em 1961). O Millenium de hoje é o Ipes dos anos 1960, que foi organizado para preparar ideologicamente a ditadura.”
Para o ex-presidente do PSB, as eleições de 2018 não estão asseguradas porque, entre outras coisas, o sistema teme o “risco Lula” ou, pelo menos, a retomada do processo histórico que estava em curso com os governos Lula e Dilma Rousseff. Amaral não vê ironia no fato de o PSDB, fundado como social-democrata, desempenhar o papel atual, por exemplo, por meio do Millenium. "A UDN também defendia a democracia e participou de todos os golpes no Brasil desde 1945."
No dia 21, o Valor Econômico publicou matéria sobre o encontro promovido pelo Millenium. Segundo o jornal, a economista Zeina Latif defendeu a necessidade de “um debate sério sobre a agenda econômica no ano que vem", e acrescentou: "É exagero dizer que vamos repetir 2002 (quando Lula se elegeu), mas não consigo jurar de pé junto que não vamos. O grau de incerteza é muito grande, tem potencial de gente muito esquisita no ano que vem".
No senado, Gleisi comentou a reportagem do Valor, intitulada “Eleição de 2018 ameaça reformas, dizem analistas”: “Analistas de mercado”, ressaltou a parlamentar. “Aqui o que vale não é o povo brasileiro, não é o interesse da maioria, o trabalhador. Aqui o que vale é o mercado, aquela gente que ganha dinheiro na especulação de títulos públicos, na banca financeira. É essa gente que interessa.”
De acordo com o texto do Valor, a avaliação de empresários e economistas no evento do Millenium é de que “o cenário político conturbado pode não atrapalhar muito o desempenho da economia este ano, mas as eleições de 2018 representam risco real à agenda de reformas necessárias para o país voltar a crescer”.
Democracia como risco
Sob o ponto de vista da economia, Guilherme Mello manifesta opinião semelhante à de Roberto Amaral. “Existe uma agenda econômica que atende a determinados interesses. Zeina Latif é uma famosa consultora financeira e está olhando para o mercado. Eles gostam da democracia apenas quando ela valida as opiniões e projetos deles. Quando não valida ou ameaça, a democracia se torna um risco. E, portanto, seria melhor talvez não ter diretas já e nem ter eleição em 2018.”
Para o economista, os ideólogos dessa posição “morrem de medo” dos interesses e da opinião da população. Num processo democrático, a população naturalmente vai rejeitar e reverter as políticas que lhe prejudicam. “No fundo, o aviso da Zeina é contra a democracia, porque eles são incapazes de convencer a população das suas políticas.” O mercado só está expressando uma formulação segundo a qual as “reformas” como as implementadas por Temer são o único caminho, com ou sem democracia. “Como diriam na década de 90, there’s no other way, não há outra saída. Para eles, a saída é fazer as reformas e diminuir o Estado para resolver o problema dos países.”
Dizendo que "não há espaço para populismos", segundo a matéria do Valor, Zeina Latif argumentou que o déficit fiscal chegou a 2,4% do PIB e o Brasil precisa de um superávit primário de 2,5% do PIB.
“O Brasil tem de fazer superávit primário porque tem um gasto com juros absolutamente fora da média internacional. A maioria dos países faz déficit primário, só que não tem tanto gasto com juros. O que está fora da curva não é o déficit primário brasileiro, é o gasto com juros”, diz o professor da Unicamp.
Fonte: Rede Brasil AtualA senadora Gleisi Hoffmann (PR) chamou a atenção para esse risco crescente na quarta-feira (21), da tribuna do Senado. O cientista político Roberto Amaral, um dos coordenadores da Frente Brasil Popular, e o economista Guilherme Mello, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), concordam com a parlamentar.
O risco de um novo golpe que inviabilize as eleições, a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ou ainda utilize a alternativa de mudança de regime “sempre existe”, diz Amaral. “A democracia representativa e o processo eleitoral são acidentes para a classe dirigente brasileira, para a direita. Eles não têm compromisso com o processo democrático. O compromisso deles é com os interesses da casa-grande. Isto que está sendo dito pelo Instituto Millenium era dito em 1963 pelo Ipes (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, criado em 1961). O Millenium de hoje é o Ipes dos anos 1960, que foi organizado para preparar ideologicamente a ditadura.”
Para o ex-presidente do PSB, as eleições de 2018 não estão asseguradas porque, entre outras coisas, o sistema teme o “risco Lula” ou, pelo menos, a retomada do processo histórico que estava em curso com os governos Lula e Dilma Rousseff. Amaral não vê ironia no fato de o PSDB, fundado como social-democrata, desempenhar o papel atual, por exemplo, por meio do Millenium. "A UDN também defendia a democracia e participou de todos os golpes no Brasil desde 1945."
No dia 21, o Valor Econômico publicou matéria sobre o encontro promovido pelo Millenium. Segundo o jornal, a economista Zeina Latif defendeu a necessidade de “um debate sério sobre a agenda econômica no ano que vem", e acrescentou: "É exagero dizer que vamos repetir 2002 (quando Lula se elegeu), mas não consigo jurar de pé junto que não vamos. O grau de incerteza é muito grande, tem potencial de gente muito esquisita no ano que vem".
No senado, Gleisi comentou a reportagem do Valor, intitulada “Eleição de 2018 ameaça reformas, dizem analistas”: “Analistas de mercado”, ressaltou a parlamentar. “Aqui o que vale não é o povo brasileiro, não é o interesse da maioria, o trabalhador. Aqui o que vale é o mercado, aquela gente que ganha dinheiro na especulação de títulos públicos, na banca financeira. É essa gente que interessa.”
De acordo com o texto do Valor, a avaliação de empresários e economistas no evento do Millenium é de que “o cenário político conturbado pode não atrapalhar muito o desempenho da economia este ano, mas as eleições de 2018 representam risco real à agenda de reformas necessárias para o país voltar a crescer”.
Democracia como risco
Sob o ponto de vista da economia, Guilherme Mello manifesta opinião semelhante à de Roberto Amaral. “Existe uma agenda econômica que atende a determinados interesses. Zeina Latif é uma famosa consultora financeira e está olhando para o mercado. Eles gostam da democracia apenas quando ela valida as opiniões e projetos deles. Quando não valida ou ameaça, a democracia se torna um risco. E, portanto, seria melhor talvez não ter diretas já e nem ter eleição em 2018.”
Para o economista, os ideólogos dessa posição “morrem de medo” dos interesses e da opinião da população. Num processo democrático, a população naturalmente vai rejeitar e reverter as políticas que lhe prejudicam. “No fundo, o aviso da Zeina é contra a democracia, porque eles são incapazes de convencer a população das suas políticas.” O mercado só está expressando uma formulação segundo a qual as “reformas” como as implementadas por Temer são o único caminho, com ou sem democracia. “Como diriam na década de 90, there’s no other way, não há outra saída. Para eles, a saída é fazer as reformas e diminuir o Estado para resolver o problema dos países.”
Dizendo que "não há espaço para populismos", segundo a matéria do Valor, Zeina Latif argumentou que o déficit fiscal chegou a 2,4% do PIB e o Brasil precisa de um superávit primário de 2,5% do PIB.
“O Brasil tem de fazer superávit primário porque tem um gasto com juros absolutamente fora da média internacional. A maioria dos países faz déficit primário, só que não tem tanto gasto com juros. O que está fora da curva não é o déficit primário brasileiro, é o gasto com juros”, diz o professor da Unicamp.
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