09/11/2016
A revolução dos secundaristas
Por Lucilene Binsfeld (Tudi)*
Desde 2015, quando alunos de escolas públicas de São Paulo disseram não ao projeto de reorganização escolar do governo Geraldo Alckmin, os estudantes têm dado uma aula sobre organização popular e participação democrática direta.
Nessa semana, com mais de mil escolas e cerca de cem instituições de ensino superior, entre faculdades e institutos federais, ocupados no Brasil, os estudantes levantam a voz contra os retrocessos promovidos pelo governo golpista de Michel Temer. Entre eles, a Proposta de Emenda à Constituição 241, que congela gastos públicos por 20 anos, incluindo saúde e educação, a medida provisória que prevê a flexibilização do Ensino Médio, e o projeto da Escola sem Partido que, na prática, pretende censurar professores, o livre exercício do pensamento e a discussão política em sala de aula.
E ao que mais os alunos resistem? O estudante não sofre a opressão do Estado apenas quando ele enfrenta a truculência policial em manifestações ou durante as legítimas ocupações. Antes de tudo, os secundaristas, em sua maioria, adolescentes, têm sido oprimidos pela falta de políticas públicas que contemplem as suas necessidades.
Portanto, essa resistência é também à falta de oportunidade que todos os dias retira os sonhos de muitos estudantes que não têm acesso à educação de qualidade, cultura, esporte e lazer. A situação é ainda pior para os oriundos das periferias que se vêem forçados a seguir o padrão de gerações anteriores de sua família: um futuro de muito trabalho com pouco retorno e sem grandes expectativas.
A situação é ainda mais dramática se levarmos em conta que a crise econômica mundial nos últimos anos deixou os jovens mais vulneráveis ao desemprego em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que para a faixa etária de 18 a 24, o índice de desemprego passou de 15,25% no 4° trimestre de 2015 para 26, 36% no 1° trimestre de 2016.
Mais uma vez a sina diante da conjuntura que vivemos: para ajudar a sustentar a família, o jovem abandona os estudos e ingressa no mercado de trabalho sendo mais uma vítima de trabalhos precários. Isso porque o sistema público de educação é excludente. Desde o Ensino Básico, o Estado falha ao não oferecer oportunidade para os alunos se prepararem para os desafios da aprendizagem. Ao saírem do Ensino Médio, mais uma vez esses estudantes são excluídos por não conseguirem ingressar em universidades públicas e gratuitas às quais somente a parcela da população com mais poder aquisitivo tem acesso. Em outras palavras: o filho do trabalhador pobre não consegue fazer uma faculdade de graça enquanto que os ricos investem dinheiro a vida toda no ensino privado para seus filhos poderem entrar na universidade. Um ciclo que afeta diretamente também o mundo do trabalho onde existem relações de poder, de opressão, de desigualdade social e precarização das condições de trabalho, sem contar a falta de vagas de emprego para jovens sem curso superior.
Por isso, a mudança dessas condições e o enfrentamento das medidas tomadas pelo governo Temer são necessários. Os estudantes tomaram uma atitude nesse sentido com as ocupações, nas quais, boa parte dos ocupantes são filhos de trabalhadores que também serão atingidos pelas propostas encaminhadas ao Senado. A luta desses estudantes reflete na classe trabalhadora como um todo, pois a PEC 241, que limita os gastos públicos à inflação do ano anterior, vai agravar ainda mais as desigualdades sociais. É inaceitável estabelecer um teto de investimento que não poderá ser ultrapassado, nós defendemos ampliação dos investimentos em áreas de saúde, educação, infraestrutura, ciência e tecnologia, cultura e dos reajustes no salário mínimo.
O caminho para promover a verdadeira justiça social passa pela democratização do acesso ao conhecimento e à informação, que são fontes de poder em nossa sociedade. Sem um projeto sério de educação para o país que leve em conta as reais necessidades dos cidadãos, e não somente os interesses dos bancos e empresários, como é o caso da PEC 241, o Brasil continuará repetindo padrões sociais de miséria e opressão.
Mais que ocupar e resistir, os secundaristas inovaram também na maneira de se mobilizar. Com autonomia, de forma descentralizada, não hierarquizada, sensíveis às questões sociais e desvinculados de partidos políticos, os secundaristas estão mostrando à sociedade que vieram para revolucionar.
Esse movimento deve ser a inspiração para a mudança e a luta que precisamos travar contra as ameaças do atual governo neoliberal. Todo o nosso apoio a esses meninos e meninas que estão tendo a coragem de mudar mesmo sendo punidos pelo Estado. Lutar sempre! Sem LUTA não há CONQUISTAS!
*Lucilene Binsfeld (Tudi) é secretária geral do Instituto Observatório Social
Desde 2015, quando alunos de escolas públicas de São Paulo disseram não ao projeto de reorganização escolar do governo Geraldo Alckmin, os estudantes têm dado uma aula sobre organização popular e participação democrática direta.
Nessa semana, com mais de mil escolas e cerca de cem instituições de ensino superior, entre faculdades e institutos federais, ocupados no Brasil, os estudantes levantam a voz contra os retrocessos promovidos pelo governo golpista de Michel Temer. Entre eles, a Proposta de Emenda à Constituição 241, que congela gastos públicos por 20 anos, incluindo saúde e educação, a medida provisória que prevê a flexibilização do Ensino Médio, e o projeto da Escola sem Partido que, na prática, pretende censurar professores, o livre exercício do pensamento e a discussão política em sala de aula.
E ao que mais os alunos resistem? O estudante não sofre a opressão do Estado apenas quando ele enfrenta a truculência policial em manifestações ou durante as legítimas ocupações. Antes de tudo, os secundaristas, em sua maioria, adolescentes, têm sido oprimidos pela falta de políticas públicas que contemplem as suas necessidades.
Portanto, essa resistência é também à falta de oportunidade que todos os dias retira os sonhos de muitos estudantes que não têm acesso à educação de qualidade, cultura, esporte e lazer. A situação é ainda pior para os oriundos das periferias que se vêem forçados a seguir o padrão de gerações anteriores de sua família: um futuro de muito trabalho com pouco retorno e sem grandes expectativas.
A situação é ainda mais dramática se levarmos em conta que a crise econômica mundial nos últimos anos deixou os jovens mais vulneráveis ao desemprego em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que para a faixa etária de 18 a 24, o índice de desemprego passou de 15,25% no 4° trimestre de 2015 para 26, 36% no 1° trimestre de 2016.
Mais uma vez a sina diante da conjuntura que vivemos: para ajudar a sustentar a família, o jovem abandona os estudos e ingressa no mercado de trabalho sendo mais uma vítima de trabalhos precários. Isso porque o sistema público de educação é excludente. Desde o Ensino Básico, o Estado falha ao não oferecer oportunidade para os alunos se prepararem para os desafios da aprendizagem. Ao saírem do Ensino Médio, mais uma vez esses estudantes são excluídos por não conseguirem ingressar em universidades públicas e gratuitas às quais somente a parcela da população com mais poder aquisitivo tem acesso. Em outras palavras: o filho do trabalhador pobre não consegue fazer uma faculdade de graça enquanto que os ricos investem dinheiro a vida toda no ensino privado para seus filhos poderem entrar na universidade. Um ciclo que afeta diretamente também o mundo do trabalho onde existem relações de poder, de opressão, de desigualdade social e precarização das condições de trabalho, sem contar a falta de vagas de emprego para jovens sem curso superior.
Por isso, a mudança dessas condições e o enfrentamento das medidas tomadas pelo governo Temer são necessários. Os estudantes tomaram uma atitude nesse sentido com as ocupações, nas quais, boa parte dos ocupantes são filhos de trabalhadores que também serão atingidos pelas propostas encaminhadas ao Senado. A luta desses estudantes reflete na classe trabalhadora como um todo, pois a PEC 241, que limita os gastos públicos à inflação do ano anterior, vai agravar ainda mais as desigualdades sociais. É inaceitável estabelecer um teto de investimento que não poderá ser ultrapassado, nós defendemos ampliação dos investimentos em áreas de saúde, educação, infraestrutura, ciência e tecnologia, cultura e dos reajustes no salário mínimo.
O caminho para promover a verdadeira justiça social passa pela democratização do acesso ao conhecimento e à informação, que são fontes de poder em nossa sociedade. Sem um projeto sério de educação para o país que leve em conta as reais necessidades dos cidadãos, e não somente os interesses dos bancos e empresários, como é o caso da PEC 241, o Brasil continuará repetindo padrões sociais de miséria e opressão.
Mais que ocupar e resistir, os secundaristas inovaram também na maneira de se mobilizar. Com autonomia, de forma descentralizada, não hierarquizada, sensíveis às questões sociais e desvinculados de partidos políticos, os secundaristas estão mostrando à sociedade que vieram para revolucionar.
Esse movimento deve ser a inspiração para a mudança e a luta que precisamos travar contra as ameaças do atual governo neoliberal. Todo o nosso apoio a esses meninos e meninas que estão tendo a coragem de mudar mesmo sendo punidos pelo Estado. Lutar sempre! Sem LUTA não há CONQUISTAS!
*Lucilene Binsfeld (Tudi) é secretária geral do Instituto Observatório Social
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