Olho gordo nos fundos de pensão
*Por José Antônio Silva
Este mês de maio de 2016, num país ameaçado em sua estabilidade política por ataques oportunistas à ordem democrática, é também o das eleições para as diretorias de dois dos maiores fundos de pensão de trabalhadores do setor bancário, na Funcef da Caixa e na Previ do Banco do Brasil. Toda a atenção (e conscientização) é pouca numa hora como esta.
Afinal, além das questões administrativas específicas, agravada por uma crise financeira mundial, há um contexto de retirada dos próprios trabalhadores da gestão dos recursos que são deles. O projeto de lei 388, que visa entregar a administração do dinheiro dos bancários nas mãos do mercado financeiro, apresentado por Aécio Neves (PSDB), foi aprovado no Senado. Se passar também na inacreditável Câmara dos Deputados – que vota “pela minha mãe, pela minha filha e pelo meu cachorrinho” – pode se prever tempos ainda mais difíceis.
Mídia internacional não tem dúvida: impeachment é golpe
Uma comprovação de que o processo de impeachment da presidenta Dilma é ilegal e injustificável é que a ampla maioria dos mais importantes jornais e revistas dos Estados Unidos e da Europa classifica – sem meias palavras – como “golpe de estado” o que está sendo tramado aqui no nosso país. E, claro, ninguém vai acusar o New York Times (EUA), a Der Spiegel (Alemanha), The Guardian e The Economist (Inglaterra), El País (Espanha) e dezenas de outros grandes veículos de comunicação mundial de serem petistas. Agora, foi a vez do Premio Nobel da Paz, Adolfo Peres Esquivel, dizer que o que acontece hoje no Brasil é “um golpe brando, sem militares, como foi feito antes em Honduras e no Paraguai”.
Até o papa Francisco encaminhou mensagem de solidariedade à presidenta Dilma, manifestando-se contra a articulação golpista.
É simples: não há crime de responsabilidade contra ela. Vale repetir que as “pedaladas fiscais” foram – e são – praticadas por vários presidentes e por praticamente e todos os governadores de estado. O tal impeachment em gestação também não é uma reação à “corrupção”. Se fosse, o processo não estaria sendo conduzido por um dos maiores gangsteres do Brasil, o presidente da Câmara Eduardo Cunha, e a comissão do impeachment, não teria, entre seus 60 membros, cerca de 40 implicados em corrupção na Lava-Jato.
É, como se sabe, um golpe político da direita que perdeu as eleições de 2014 e quer roubar a cadeira presidencial legitimamente obtida nas urnas.
Mas mesmo a parte da população que acredita em tudo o que diz a mídia brasileira e quer porque quer derrubar a governante eleita, deve ter muito bem claro na mente que, se isto acontecer, quem vai sofrer mais será a maioria dos brasileiros e brasileiras – incluindo, claro, os bancários.
Temer, Serra e outros políticos que afiam as facas para o golpe, com um sorriso no rosto, já vêm anunciando medidas duras para a população. E não se trata apenas de cortar os programas sociais contra a miséria (como o Bolsa Família), mas também os direitos trabalhistas, que segundo eles serão “revistos”.
Enquanto isso, no horizonte, surge a opção de convocar novas eleições gerais ainda em 2016.
Neste clima todo, os trabalhadores só não podem dar um tiro no próprio pé.
*José Antônio Silva é jornalista.
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