Caixa 100% Pública é desenvolvimento
*Por Maria Rita Serrano
O último ano foi marcado por uma intensa mobilização dos empregados da Caixa em defesa do banco 100% público. As ameaças começaram no final de 2014, com a possibilidade da venda de ações no mercado e, embora o governo tenha recuado nesse intento, um risco ainda mais amplo veio atingir todas as estatais do País, com a possibilidade de aprovação do Projeto de Lei (PLS) 555, contra o qual lutamos nesse exato momento. Mas é preciso entender que garantir a Caixa 100% Pública não é defender apenas mais crescimento para o Brasil. É, também, mais emprego para seus trabalhadores.
No balanço que a empresa divulga nesta terça, 8, é possível conferir que, em 2015, a Caixa injetou na economia R$ 732,7 bilhões. Especificamente para o Programa Minha Casa Minha Vida foram contratados R$ 39,7 bilhões, totalizando 347 mil unidades habitacionais. Já o Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do governo federal, pagou R$ 26,4 bilhões em benefícios, contribuindo para reduzir a taxa de mortalidade infantil e evasão escolar, itens condicionantes à participação no programa.
Se a Caixa se tornar uma empresa privada – ou uma empresa de sociedade anônima, como determina no PLS 555 – esses números vão sofrer uma queda brutal. Se hoje já existem economistas que consideram os programas sociais um gasto excessivo e inútil para o País, sempre falando em nome do ´mercado´, o que esperar de uma Caixa comandada por acionistas desse mesmo naipe; ou seja, interessados apenas na lucratividade?
Entre 2004 e 2013, anos de grande investimento nos programas sociais no Brasil, o total de bancários em empresas públicas e privadas praticamente se igualou (cerca de 245 mil contra 266 mil nos privados), com ênfase no fato de que quem cresceu foram os bancos públicos. A contratação foi então expressiva na Caixa, mas a mudança de cenário já se avizinhava e a possibilidade de que um refluxo ocorresse, foi, inclusive, destacada em meu artigo intitulado Os desafios dos empregados da Caixa, publicado quando a empresa divulgou seu balanço de 2014.
Embora no ano passado o crédito imobiliário tenha sido 13% superior ao registrado em 2014, com evolução de 2,3% no terceiro trimestre de 2015, a poupança, uma das principais captadoras de recursos, subiu apenas 1,9%. A taxa de juro alta, que torna essa aplicação pouco atraente, trouxe mais impactos para a Caixa, vez que os bancos privados não investem em programas sociais. Junto com o balanço, a Caixa também anunciou nesta terça novas medidas para estímulo ao crédito imobiliário, com elevação da cota de financiamento para aquisição de imóveis usados e a oferta de empréstimos para compra do segundo imóvel. O lucro líquido obtido em 2015 foi de R$ 7,2 bilhões, 0,9% superior ao anterior. Já o número de empregados do banco, de acordo com os dados divulgados, caiu de 101.484 para 97.500 em 2015.
A melhor maneira de se tentar reverter essa queda é intensificar a luta em defesa da Caixa 100% Pública. A Caixa tem que voltar a crescer para contratar, e isso significa investir fortemente em crédito, principalmente no habitacional, que movimenta as contratações na construção civil – setor de declínio acentuado que demitiu mais de 400 mil trabalhadores em 2015; não terceirizar serviços, ampliar o financiamento e a inclusão de brasileiros no sistema bancário. Trata-se, evidentemente, de acreditar no papel de um banco que, como já se viu, pode e deve incrementar o desenvolvimento do Brasil e de seu povo nas mais diversas frentes, como educação, agricultura, esporte, moradia…
Mas trata-se também de garantir e ampliar o emprego, pois sem o corte de programas sociais e sem a intervenção das regras de mercado unicamente voltadas para o lucro, a Caixa por certo terá necessidade de muita mão de obra; de mais gente e mais agências. Aí sim, teremos garantido mais empregos para a Caixa e mais Caixa para o Brasil.
*Maria Rita Serrano é funcionária da Caixa, representante eleita dos empregados no Conselho de Administração da empresa, diretora do Sindicato dos Bancários do ABC e da Contraf – CUT, coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas e Mestre em Administração.
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