22/01/2015

A terceira revolução industrial morreu. E agora?

A tecnologia que move o mundo atual dá sinais de estagnação. Podemos esperar crises econômicas e sociais.
por Antonio Luiz M. C. Costa

É um assunto muito importante, mas embaraçoso demais para os veículos especializados. A terceira revolução industrial na qual militam tantos geeks, analistas de mercado, empresários e economistas desde os anos 1990 caminha para um fracasso econômico.

O crescimento anual médio da produtividade total dos fatores nos EUA, calculado pelo economista Robert Gordon, foi de 2,03% entre 1920 e 1970, anos em que a difusão das técnicas fordistas de produção e consumo em massa de fato revolucionaram a economia. Caiu nas décadas seguintes. De 1999 a 2004, recuperou-se para 1,69%, o que pareceu dar alguma substância à ideia de uma nova “revolução industrial”. Mas, de 2004 a 2009, caiu para 0,61% e de 2009 a 2014, para 0,48%.

Analisemos também a produtividade do trabalho, um conceito mais simples e familiar: a taxa de crescimento anual média foi 2,33% de 1891 a 1972, 1,38% de 1972 a 1996, 2,46% de 1996 a 2004 e 1,33% de 2004 a 2012. À parte os problemas ambientais, políticos e financeiros que inibem o crescimento, há algo mais fundamental. Abaixo da camada superficial de entusiasmo com novos modelos de smartphones e outros gadgets de consumo, a tecnologia que realmente importa dá mostras de uma tendência à estagnação que não será fácil de superar.

Desde 2005, já não vigora a “escalabilidade de Dennard”, “lei” formulada por Robert H. Dennard em 1974, segundo a qual, por mais que transistores ficassem menores a sua densidade de potência permaneceria constante, de modo que o uso de energia permaneceria proporcional à área. Isso não acontece mais: os transistores ainda estão diminuindo de tamanho, mas seu consumo de energia não mais cai proporcionalmente. É cada vez mais difícil mantê-los refrigerados e a eficiência do processamento não cresce no mesmo ritmo.

Agora, começa a ratear a “Lei de Moore”, em cuja formulação original, de 1965, o número de transistores em um circuito integrado dobraria a cada ano, prazo depois revisado para dois anos e finalmente para 18 meses. A densidade ainda cresce, mas está perto de alcançar (talvez até 2020) limites físicos que poucos especialistas julgam possível ultrapassar. Do ponto de vista econômico, essa “lei” já foi revogada. Nesse aspecto, a formulação relevante era que o custo por transistor cairia pela metade a cada dois anos ou pouco menos. Os aumentos de densidade só têm sido obtidos à custa de processos mais caros e complexos e investimentos mais pesados. O crescimento da produtividade na indústria de microprocessadores caiu de 50,2% anuais nos anos 1990 (quando dobrava em 20 meses), para 22,9% em 2001-2008 (dobrando a cada 40 meses) e continua a cair.

Isso põe a perder a profecia da “singularidade”, esse mito geek equivalente às profecias cristãs do arrebatamento e do milênio, segundo o qual os computadores ultrapassariam a capacidade de pensamento do cérebro humano nos anos 2020 (ou no mais tardar, 2040) e isso dispararia a aceleração do progresso para o infinito e abriria o caminho a uma utopia de imortais.

De maneira mais prática e concreta, também inviabiliza o mito mais terra-a-terra do “win-win”, a ideia de que a sociedade (nos países ricos, pelo menos) poderia se desenvolver de maneira a proporcionar ganhos a todas as classes. Como demonstra exaustivamente O Capital no Século XXI, o best-seller de Thomas Piketty, quando a taxa de crescimento da economia é inferior à taxa de remuneração do capital, o resultado é a concentração de renda (se o capital cresce mais rápido do que o PIB, então a renda dos capitalistas cresce em relação à dos trabalhadores).

Na falta de progresso em produtividade, as empresas recorrem a maior exploração da mão de obra para manter o crescimento de suas taxas de lucro. Demitem, baixam salários ou transferem produção para regiões de salários mais baixos. Pode-se esperar para breve o estouro da nova bolha do mercado de ações dos EUA, cuja sustentabilidade dependeria de um crescimento muito maior da economia a longo prazo do que as atuais condições tornam plausível. E a médio prazo, um acirramento ainda maior dos conflitos sociais e étnicos.


 

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