22/08/2025
Jessé Souza: para vencer batalha de narrativas, trabalhadores precisam entender papel do imaginário nacional

“Para entender a conjuntura, é preciso recuperar o fator que resultou na atual conjuntura. É preciso compreender o que aconteceu antes”, foi assim que Jessé Souza, sociólogo, autor de mais de um best-seller, com milhares de exemplares vendidos, mestre em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, deu início à sua aula magna para o 35º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (35º CNFBB).
O professor apresentou uma retrospectiva histórica para explicar como ideologias enraizadas atravessam todas as camadas da sociedade brasileira, independentemente de orientação política, moldando percepções e comportamentos. Segundo ele, essas narrativas fazem a população aceitar e reproduzir o racismo e acreditar que o país e suas instituições são naturalmente corruptos. Na prática política, isso se traduz em resistência a avanços sociais e direitos trabalhistas.
“Obviamente, poderíamos começar em 1532, quando a primeira senzala foi construída no Brasil - não é retórica dizer que essa senzala continua até hoje”, defendeu Jessé. “E isso porque a escravidão sempre foi vista como algo secundário na história brasileira. Sendo que essa imagem, que dá pouco valor ao que foi o crime da escravidão, foi desenvolvida por nomes como Raymundo Faoro e Sério Buarque de Holanda, que centraram na corrupção para explicar a construção da sociedade brasileira. Mas essa ideia de que a corrupção está na raiz da formação do país, do povo brasileiro e das instituições é uma ideia envenenada, produzida pela elite do país e que é compartilhada, até hoje, pela direita e pela esquerda”, pontuou o professor.
Esse esquema que manteve o debate sobre a escravidão de forma secundária faz com que, ainda hoje, boa parcela da população continue sendo humilhada simplesmente pela cor da pele. “A escravidão é o gozo em humilhar o outro. É o que as patroas fazem com as empregadas ainda. É o que ficou mais evidente quando as elites ficaram insatisfeitas com a decisão da então presidenta Dilma Rousseff de garantir os direitos da CLT para a categoria doméstica. O ataque aos projetos de inclusão, é uma maneira de manter a escravidão, sob formas modernas”, continuou Jessé Souza.
Dentro desse esquema, que impede o desenvolvimento para todas as camadas étnicas e regiões do país, estão o forte domínio das elites sobre os meios de comunicação e as decisões do Banco Central, com uma política monetária. “A Selic (taxa básica de juros do Brasil) é usada também nesse sentido: manter a desigualdade, para deixar o povo pobre”, exemplificou.
Prosseguindo na estratégia de olhar o passado para entender a conjuntura, Jessé falou dos esforços de Getúlio Vargas, que foi presidente do Brasil de 1930 até 1945 e, posteriormente, de 1951 até o seu suicídio em 1954.
“Vargas atuou de forma muito importante contra a elite do país, liderada então por São Paulo. Ele não pode ser reconhecido só por ter modernizado o estado, construído a indústria de base, instituições como CNPq e IBGE, que temos até hoje. Ele precisa ser lembrando também pelo que quase ninguém percebeu, que foi ir além do material, ao disputar as ideias dominantes”, ressaltou.
Nesta estratégia, por meio da propaganda, Vargas atacou o racismo. “Ele exalta o samba e o futebol, como paixões nacionais e feitas por negros, propagou que a base africana (e não a portuguesa) era a verdadeira base da identidade nacional. A honra que ele deu, como chefe de estado, ao jogador Leonidas, o diamante negro, fez parte dessa estratégia. Foi aí que, no Brasil, o racismo, que era explícito, começou a se tornar o racismo cordial, que é o racismo envergonhado, ao menos interditando a explicitude dessa forma de violência”, relembrou o sociólogo.
A elite, obviamente, resistiu, a exemplo da tentativa de golpe que os paulistanos tentaram contra Vargas, em 1932, mas, felizmente, saíram derrotados pelas forças nacionais. “O problema é, se tem uma coisa inteligente, em termos políticos, seja para o bem ou para o mal, essa coisa é pensar em longo prazo, planejar em longo prazo, e foi isso que a elite paulista fez, criando o imaginário do bandeirante (bandeirantes eram assassinos, violentos), como uma espécie de herói, exemplo de livre iniciativa. São Paulo como a terra do trabalho”, contou.
E esse imaginário, alimentado pelas elites internacionais do Norte Global, segue enraizado até os dias de hoje. “Quando você ensina um povo inteiro que ele é corrupto, desde sua concepção, você mata esse povo, você mata essa pessoa, fazendo ela acreditar que é indigna, de natureza corrupta. Essa, inclusive, é a forma que os europeus e estadunidenses descredibilizam todos os países do Sul Global. Aliás, não existe país mais corrupto do mundo dos que os EUA, do capitalismo financeiro, baseado em paraísos fiscais”, concluiu o professor.
O professor apresentou uma retrospectiva histórica para explicar como ideologias enraizadas atravessam todas as camadas da sociedade brasileira, independentemente de orientação política, moldando percepções e comportamentos. Segundo ele, essas narrativas fazem a população aceitar e reproduzir o racismo e acreditar que o país e suas instituições são naturalmente corruptos. Na prática política, isso se traduz em resistência a avanços sociais e direitos trabalhistas.
“Obviamente, poderíamos começar em 1532, quando a primeira senzala foi construída no Brasil - não é retórica dizer que essa senzala continua até hoje”, defendeu Jessé. “E isso porque a escravidão sempre foi vista como algo secundário na história brasileira. Sendo que essa imagem, que dá pouco valor ao que foi o crime da escravidão, foi desenvolvida por nomes como Raymundo Faoro e Sério Buarque de Holanda, que centraram na corrupção para explicar a construção da sociedade brasileira. Mas essa ideia de que a corrupção está na raiz da formação do país, do povo brasileiro e das instituições é uma ideia envenenada, produzida pela elite do país e que é compartilhada, até hoje, pela direita e pela esquerda”, pontuou o professor.
Esse esquema que manteve o debate sobre a escravidão de forma secundária faz com que, ainda hoje, boa parcela da população continue sendo humilhada simplesmente pela cor da pele. “A escravidão é o gozo em humilhar o outro. É o que as patroas fazem com as empregadas ainda. É o que ficou mais evidente quando as elites ficaram insatisfeitas com a decisão da então presidenta Dilma Rousseff de garantir os direitos da CLT para a categoria doméstica. O ataque aos projetos de inclusão, é uma maneira de manter a escravidão, sob formas modernas”, continuou Jessé Souza.
Dentro desse esquema, que impede o desenvolvimento para todas as camadas étnicas e regiões do país, estão o forte domínio das elites sobre os meios de comunicação e as decisões do Banco Central, com uma política monetária. “A Selic (taxa básica de juros do Brasil) é usada também nesse sentido: manter a desigualdade, para deixar o povo pobre”, exemplificou.
Prosseguindo na estratégia de olhar o passado para entender a conjuntura, Jessé falou dos esforços de Getúlio Vargas, que foi presidente do Brasil de 1930 até 1945 e, posteriormente, de 1951 até o seu suicídio em 1954.
“Vargas atuou de forma muito importante contra a elite do país, liderada então por São Paulo. Ele não pode ser reconhecido só por ter modernizado o estado, construído a indústria de base, instituições como CNPq e IBGE, que temos até hoje. Ele precisa ser lembrando também pelo que quase ninguém percebeu, que foi ir além do material, ao disputar as ideias dominantes”, ressaltou.
Nesta estratégia, por meio da propaganda, Vargas atacou o racismo. “Ele exalta o samba e o futebol, como paixões nacionais e feitas por negros, propagou que a base africana (e não a portuguesa) era a verdadeira base da identidade nacional. A honra que ele deu, como chefe de estado, ao jogador Leonidas, o diamante negro, fez parte dessa estratégia. Foi aí que, no Brasil, o racismo, que era explícito, começou a se tornar o racismo cordial, que é o racismo envergonhado, ao menos interditando a explicitude dessa forma de violência”, relembrou o sociólogo.
A elite, obviamente, resistiu, a exemplo da tentativa de golpe que os paulistanos tentaram contra Vargas, em 1932, mas, felizmente, saíram derrotados pelas forças nacionais. “O problema é, se tem uma coisa inteligente, em termos políticos, seja para o bem ou para o mal, essa coisa é pensar em longo prazo, planejar em longo prazo, e foi isso que a elite paulista fez, criando o imaginário do bandeirante (bandeirantes eram assassinos, violentos), como uma espécie de herói, exemplo de livre iniciativa. São Paulo como a terra do trabalho”, contou.
E esse imaginário, alimentado pelas elites internacionais do Norte Global, segue enraizado até os dias de hoje. “Quando você ensina um povo inteiro que ele é corrupto, desde sua concepção, você mata esse povo, você mata essa pessoa, fazendo ela acreditar que é indigna, de natureza corrupta. Essa, inclusive, é a forma que os europeus e estadunidenses descredibilizam todos os países do Sul Global. Aliás, não existe país mais corrupto do mundo dos que os EUA, do capitalismo financeiro, baseado em paraísos fiscais”, concluiu o professor.
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