20/06/2025
Banco Central dificulta vida das famílias brasileiras com nova elevação de juros
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou, nesta quarta-feira (18), sua decisão de elevar a taxa básica de juros do país (a chamada Selic) em 0,25 ponto percentual. Com isso, o índice passou de 14,75% para 15% ao ano - maior patamar já praticado pela entidade desde maio de 2006. Com esse nível, o Brasil praticamente empata com a Rússia (um país que está em guerra desde fevereiro de 2022) na primeira colocação do ranking mundial de juros reais (a diferença entre a taxa Selic e a inflação projetada).
"Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que impacta no mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas de emprego, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do Banco Central", explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.
O movimento sindical bancário vem alertando para os impactos das decisões do Copom sobre o aumento do endividamento da população, do Estado Brasileiro e das empresas, uma vez que a Selic influencia os juros cobrados em todo o sistema financeiro e nos títulos públicos, que têm sua rentabilidade atrelada à taxa básica de juros.
Famílias e Estados mais endividados
O ciclo mais recente de elevação gradual da taxa Selic começou em 2021, mas foi em setembro do ano passado que as elevações foram seguidas e aceleradas, iniciando com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto, três de 1 ponto percentual, uma de 0,5 ponto e, agora, com 0,25 p.p.
Ao analisar esse quadro, o economista do Dieese, Gustavo Cavarzan, observou que houve um forte aumento dos juros cobrados, no período, pelo sistema financeiro. “Um exemplo são os juros cobrados à pessoa física (ou seja, para a população em geral), que passou de uma média de 36% ao ano, em 2021, para mais de 56% ao ano, em 2025", completou.
O economista ainda aponta que, o aumento de 0,25 p.p. na Selic, decidido hoje pelo Copom, irá gerar um gasto anual adicional ao governo de R$ 12,2 bilhões. Mas que, nos últimos 12 meses (concluídos em abril de 2025) o governo gastou R$ 928,4 bilhões com os juros da dívida - o equivalente a 7,71% do PIB.
“Esses quase R$ 1 trilhão drenados da União para os juros com os títulos da dívida pública equivalem a mais de cinco vezes o orçamento para a Educação e mais de três vezes os recursos para a Saúde”, arremata o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale. "Por isso que a classe trabalhadora, organizada pelo movimento sindical, tem se manifestado reiteradamente contra a política de juros altos do Banco Central", pontuou o dirigente.
Um jogo em favor da financeirização
Para justificar a Selic em níveis altíssimos, na decisão desta quarta-feira (18), o Comitê de Políticas Monetárias do Banco Central apontou o acirramento das tensões geopolíticas e as incertezas internas em relação à política fiscal, além do mercado interno aquecido.
Conversamos com Ladislau Dowbor, economista, professor titular de pós-graduação da PUC-SP e autor de “A Era do Capital Improdutivo”. Ele destacou que o Brasil é refém da financeirização, termo que define a influência do setor financeiro na economia, e que valoriza mais o capital em detrimento das atividades produtivas e dos ganhos reais para as famílias.
"Com isso, grande parte do dinheiro que as famílias e o setor produtivo obtêm, a partir do trabalho, é drenado por meio de taxas de juros cobradas no Brasil", ressaltou. Segundo dados do próprio Banco Central, em fevereiro deste ano, a taxa média de juros para as famílias e empresas chegou a 43,7% ao ano. "Na Europa ou na China, a média anual da taxa de juros é algo entre 4% e 6%. Nenhuma família aguenta a prática dos níveis do sistema financeiro brasileiro. Por conta disso, temos cerca de 70 milhões de inadimplentes no país. São pessoas que já pagaram a conta, mas, em decorrência dos juros abusivos, a dívida é alongada. Isso é bandidagem do sistema financeiro", reforçou o professor.
Ladislau calcula que esse sistema de drenagem retira das famílias brasileiras o equivalente a R$ 1 trilhão (10% do PIB). "Das empresas, são drenados outros 3% do PIB e do Estado, cerca de 8% do PIB. Se considerarmos os ganhos com a isenção de impostos sobre lucros e dividendos, que não temos como calcular exatamente, mais a evasão fiscal, que representa cerca de 6% do PIB, por baixo, podemos dizer que o sistema da financeirização drena 25% do PIB, ou seja, um quarto de todos os esforços produtivos do país são captados por gente que não produz nada", pontuou.
O economista registrou também que a maior parte desses recursos não são nem capturados por grandes grupos financeiros nacionais, mas sim por grupos internacionais, que formam o sistema global, como Black Rock, States Street, Vanguard, JPMorgan e Goldman Sachs. "Esse é o tamanho do desafio hoje: que o dinheiro volte a ser útil e alimente o processo produtivo", concluiu.
Autonomia do BC em xeque
“Nesta pequena aula do professor Ladislau Dowbor fica claro que estamos diante e uma batalha. De que lado o Banco Central está? Diante dessas decisões do Copom, não é do lado das famílias, do setor produtivo, do país! O que nos exigimos é que a entidade monetária cumpra sua responsabilidade para como o povo brasileiro. Porque o que realmente temos não é autonomia alguma do Banco Central, uma vez que, em todas as suas decisões, os únicos beneficiados são grandes grupos econômicos que drenam dinheiro do trabalhador, do setor produtivo”, destacou Juvandia Moreira.
“Já se perguntou por que, no Brasil, a gente compra um carro, mas paga dois para os bancos, em taxas de juros? Isso é reflexo dessa política monetária”, pontuou a presidenta da Contraf-CUT.
"Os juros altos desestimulam os investimentos e o consumo, cenário que impacta no mercado de trabalho. O Brasil estaria gerando muito mais vagas de emprego, de qualidade, com salários melhores, não fosse essa política monetária do Banco Central", explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.
O movimento sindical bancário vem alertando para os impactos das decisões do Copom sobre o aumento do endividamento da população, do Estado Brasileiro e das empresas, uma vez que a Selic influencia os juros cobrados em todo o sistema financeiro e nos títulos públicos, que têm sua rentabilidade atrelada à taxa básica de juros.
Famílias e Estados mais endividados
O ciclo mais recente de elevação gradual da taxa Selic começou em 2021, mas foi em setembro do ano passado que as elevações foram seguidas e aceleradas, iniciando com uma alta de 0,25 ponto, uma de 0,5 ponto, três de 1 ponto percentual, uma de 0,5 ponto e, agora, com 0,25 p.p.
Ao analisar esse quadro, o economista do Dieese, Gustavo Cavarzan, observou que houve um forte aumento dos juros cobrados, no período, pelo sistema financeiro. “Um exemplo são os juros cobrados à pessoa física (ou seja, para a população em geral), que passou de uma média de 36% ao ano, em 2021, para mais de 56% ao ano, em 2025", completou.
O economista ainda aponta que, o aumento de 0,25 p.p. na Selic, decidido hoje pelo Copom, irá gerar um gasto anual adicional ao governo de R$ 12,2 bilhões. Mas que, nos últimos 12 meses (concluídos em abril de 2025) o governo gastou R$ 928,4 bilhões com os juros da dívida - o equivalente a 7,71% do PIB.
“Esses quase R$ 1 trilhão drenados da União para os juros com os títulos da dívida pública equivalem a mais de cinco vezes o orçamento para a Educação e mais de três vezes os recursos para a Saúde”, arremata o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale. "Por isso que a classe trabalhadora, organizada pelo movimento sindical, tem se manifestado reiteradamente contra a política de juros altos do Banco Central", pontuou o dirigente.
Um jogo em favor da financeirização
Para justificar a Selic em níveis altíssimos, na decisão desta quarta-feira (18), o Comitê de Políticas Monetárias do Banco Central apontou o acirramento das tensões geopolíticas e as incertezas internas em relação à política fiscal, além do mercado interno aquecido.
Conversamos com Ladislau Dowbor, economista, professor titular de pós-graduação da PUC-SP e autor de “A Era do Capital Improdutivo”. Ele destacou que o Brasil é refém da financeirização, termo que define a influência do setor financeiro na economia, e que valoriza mais o capital em detrimento das atividades produtivas e dos ganhos reais para as famílias.
"Com isso, grande parte do dinheiro que as famílias e o setor produtivo obtêm, a partir do trabalho, é drenado por meio de taxas de juros cobradas no Brasil", ressaltou. Segundo dados do próprio Banco Central, em fevereiro deste ano, a taxa média de juros para as famílias e empresas chegou a 43,7% ao ano. "Na Europa ou na China, a média anual da taxa de juros é algo entre 4% e 6%. Nenhuma família aguenta a prática dos níveis do sistema financeiro brasileiro. Por conta disso, temos cerca de 70 milhões de inadimplentes no país. São pessoas que já pagaram a conta, mas, em decorrência dos juros abusivos, a dívida é alongada. Isso é bandidagem do sistema financeiro", reforçou o professor.
Ladislau calcula que esse sistema de drenagem retira das famílias brasileiras o equivalente a R$ 1 trilhão (10% do PIB). "Das empresas, são drenados outros 3% do PIB e do Estado, cerca de 8% do PIB. Se considerarmos os ganhos com a isenção de impostos sobre lucros e dividendos, que não temos como calcular exatamente, mais a evasão fiscal, que representa cerca de 6% do PIB, por baixo, podemos dizer que o sistema da financeirização drena 25% do PIB, ou seja, um quarto de todos os esforços produtivos do país são captados por gente que não produz nada", pontuou.
O economista registrou também que a maior parte desses recursos não são nem capturados por grandes grupos financeiros nacionais, mas sim por grupos internacionais, que formam o sistema global, como Black Rock, States Street, Vanguard, JPMorgan e Goldman Sachs. "Esse é o tamanho do desafio hoje: que o dinheiro volte a ser útil e alimente o processo produtivo", concluiu.
Autonomia do BC em xeque
“Nesta pequena aula do professor Ladislau Dowbor fica claro que estamos diante e uma batalha. De que lado o Banco Central está? Diante dessas decisões do Copom, não é do lado das famílias, do setor produtivo, do país! O que nos exigimos é que a entidade monetária cumpra sua responsabilidade para como o povo brasileiro. Porque o que realmente temos não é autonomia alguma do Banco Central, uma vez que, em todas as suas decisões, os únicos beneficiados são grandes grupos econômicos que drenam dinheiro do trabalhador, do setor produtivo”, destacou Juvandia Moreira.
“Já se perguntou por que, no Brasil, a gente compra um carro, mas paga dois para os bancos, em taxas de juros? Isso é reflexo dessa política monetária”, pontuou a presidenta da Contraf-CUT.
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