16/06/2025

Audiência Pública na Alesp denuncia projeto de terceirização fraudulenta do Santander e os impactos sociais do desmonte promovido pelo banco

O auditório Teotônio Vilela, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), foi palco, nesta segunda-feira (16), de uma importante audiência pública que escancarou os efeitos devastadores do projeto de terceirização promovido pelo banco Santander. A atividade foi uma iniciativa do deputado estadual Luiz Claudio Marcolino, em parceria com a Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito da CUT de São Paulo (Fetec-CUT/SP), e contou com o apoio da Contraf-CUT, Sindicato dos Bancários de São Paulo, CUT-SP e sindicatos filiados à federação.
 

A audiência reuniu dirigentes sindicais, representantes de entidades de trabalhadores, especialistas e parlamentares para denunciar o processo de precarização que vem sendo conduzido pelo Santander no Brasil por meio de uma terceirização fraudulenta, que vem acompanhada do fechamento de agências, exclusão bancária e ataque a direitos históricos da categoria.

O Sindicato dos Bancários de Catanduva e região esteve presente e reforçou seu compromisso com a luta em defesa da categoria. A entidade foi representada por seus diretores Júlio César Trigo, Antônio Júlio Gonçalves Neto, Ricardo Jorge Nassar Jr., Luiz Eduardo de M. Freire e pelo presidente do Sindicato, Roberto Vicentim.
 

O deputado Luiz Claudio Marcolino abriu os debates ressaltando que os impactos da terceirização vão muito além da categoria bancária. “Estamos falando de uma política que afeta trabalhadores, clientes, aposentados, pequenos comerciantes e toda a sociedade. O que o Santander está fazendo é desmontar uma estrutura de proteção construída ao longo de décadas para ampliar seus lucros a qualquer custo”, afirmou.
 

A audiência contou ainda com a participação da técnica do Dieese, Rosângela Vieira, que apresentou um diagnóstico completo dos impactos da terceirização. Ela detalhou como a manobra do Santander representa uma fraude trabalhista que fragmenta a categoria, promove a redução salarial, dificulta a organização sindical e gera impactos econômicos locais, com queda no consumo e perda de arrecadação pública.


“Trabalhadores de TI — categoria que o Santander tenta enquadrar em substituição aos bancários — pagam, em média, 37% menos impostos. Além disso, a empresa First, que integra o conglomerado espanhol, deixou de recolher R$ 66,6 milhões ao INSS em apenas oito meses. Isso representa uma perda significativa na arrecadação pública, que afeta diretamente a oferta de políticas públicas em educação, saúde e infraestrutura”, exemplificou Rosângela.

A Coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, Wanessa Queiroz trouxe à audiência uma dura denúncia: o processo de terceirização do banco atinge de forma ainda mais severa as mulheres bancárias. Segundo ela, embora representem 55% da força de trabalho no setor, as mulheres são maioria entre os demitidos — e enfrentam maiores obstáculos para acessar áreas como tecnologia da informação, onde há menor representação feminina e mais contratos terceirizados. “O banco se aproveita da desigualdade de gênero para aprofundar a precarização”, afirmou.
 

A presidenta da Afubesp, Maria Rosani, também fez um alerta contundente: o Santander não poupa sequer os aposentados. Ela denunciou os constantes ataques aos participantes do Banesprev e da Cabesp, que vêm sofrendo com tentativas de desmontes, aumento de custos e perda de direitos. Só em 2023, houve aumento de contribuições e redução de cobertura nos planos de saúde, o que compromete a renda e a dignidade de quem construiu a história da instituição bancária. “É inaceitável que o banco, que lucra bilhões, trate com tanto descaso seus aposentados”, afirmou.

Rita Berlofa, dirigente da Contraf-CUT, escancarou a disparidade entre o tratamento oferecido aos trabalhadores do Santander no Brasil e na Espanha, país de origem do banco. Lá, os direitos são respeitados e os empregos valorizados. Aqui, o banco paga bilhões em dividendos aos acionistas enquanto precariza as condições de trabalho dos bancários brasileiros.

Já Aline Molina, presidenta da Fetec-CUT/SP, relembrou o papel ativo do Santander na aprovação da reforma trabalhista de 2017. “Essa reforma não só destruiu direitos, como abriu as portas para que bancos como o Santander adotassem modelos de contratação mais frágeis e antissindicais. O banco não só terceiriza, como se beneficia da perda de arrecadação dos municípios e do Estado”, destacou.
 

A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo e coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, denunciou outro grave efeito da estratégia do Santander: o fechamento de agências e a substituição do atendimento humano pela digitalização sem compromisso social. “Essa política afasta milhões de brasileiros do sistema financeiro, principalmente os mais pobres, os idosos e os moradores de regiões periféricas. É a desbancarização disfarçada de inovação”, alertou.
 

Mobilização seguirá crescendo

 Ao final do debate, foram aprovadas novas medidas para denunciar e tentar reverter as fraudes cometidas pelo banco, que se nega a discutir as práticas em mesa de negociação com o movimento sindical.

Para o secretário-geral do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Júlio César Trigo, a audiência foi um passo importante para ampliar o debate público sobre os ataques do Santander. “O que está em curso é um projeto de precarização articulado, que precisa ser enfrentado com união, resistência e mobilização. O bancário e os clientes brasileiros merecem respeito. E é isso que vamos continuar exigindo, em cada agência, em cada espaço político e nas ruas”, afirmou.
 

Luta internacional

Em 10 de junho passado dirigentes sindicais de diversos países da América Latina e da Espanha também se reuniram em Buenos Aires, durante encontro da Rede Sindical Internacional do Banco Santander, para debater ações em defesa do emprego bancário e condições dignas de trabalho em todo o continente. Como parte da resposta sindical articulada, foi convocada uma Jornada Internacional de Luta para 26 de junho, com mobilizações nos diversos países onde o Santander atua.

> A audiência foi transmitida ao vivo pelo Youtube da Alesp. Assista a íntegra aqui
 
Fonte: Seeb Catanduva

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