26/10/2022

Assédio sexual na Caixa: tá na hora de jair embora!

O presidente da República e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) disse, em entrevista ao portal Metrópoles, que não viu “nada contundente” nos depoimentos de dezenas de mulheres que acusaram Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, de assédio sexual.

“Não poderíamos esperar nada de diferente desse governo, que usa os empregados apenas para pagar os benefícios, trabalhando sem parar até aos finais de semana. Mas, quando estes mesmos trabalhadores apresentam qualquer reclamação, são tidos como mentirosos, e suas denúncias classificadas como irrelevantes, ou sem sentido”, criticou o dirigente da Confederação nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Rafael de Castro. “E o mais grave é que estes empregados, que cumprem rigorosa e eficazmente suas tarefas, são também classificados como vagabundos por esse mesmo governo que utiliza o banco e o trabalho destes bancários para finalidades político-eleitorais”, completou.

"Repudiamos com veemência a fala de Bolsonaro. Esta não é a primeira vez que a autoridade máxima do país menospreza as mulheres e relativiza situações de abusos contra elas, como a fala sobre as meninas venezuelanas e quando questiona se as mulheres preferem ter na bolsa uma Lei Maria da Penha ou uma pistola. Os depoimentos das empregadas da Caixa são alarmantes; o que mais o presidente gostaria que tivesse acontecido para creditar a fala dessas mulheres? É deplorável que fatos como os denunciados aconteçam em uma instituição como a Caixa, e tentem ser silenciados por quem deveria fortalecer as políticas de igualdade de gênero e respeito, e zelar pelo nome, história e valores da instituição. Esse tipo de prática é inaceitável em quaisquer espaços de nossa sociedade. Por isso, a naturalização de estruturas machistas deve ser confrontada e rompida para evitar violências em razão do gênero. E o combate a todo tipo de assédio deve ser firme, garantindo segurança para todas as mulheres. Assédio é crime e não deve ser silenciado nunca. Às vítimas, manifestamos mais uma vez nossa solidariedade e apoio”, ressaltou o diretor do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Antônio Júlio Gonçalves Neto.

Para a secretária de Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes, é revoltante que os depoimentos de várias mulheres sejam desconsiderados para que seja valorizada a fala e a posição de apenas um homem. “A maioria das mulheres já sofreu violência sexual ou moral, ou conhece pelo menos uma vítima. Infelizmente é uma questão cultural que está cristalizada na sociedade brasileira”, disse. “É preciso que haja responsabilização do criminoso, pois a falta de punição desencoraja as vítimas de denunciarem. Ao contrário, as que denunciam sofrem nova violência institucional, com piadas, discriminação e até demissões. Isso não pode continuar”, completou.

A representante eleita pelos empregados para os representarem no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, se manifestou em seu perfil no Twitter sobre a declaração do presidente da República. Para ela, “o desrespeito do presidente do país às mulheres é perverso”. Rita disse ainda que se o presidente da República não viu nada de contundente nas muitas denúncias de assédio sexual cometido contra as empregadas da Caixa pelo ex-presidente do banco, “a justiça e a eleição trarão a contundência em breve”.

Caixa inerte

Além da desconsideração feita por Bolsonaro, Rafael de Castro também criticou a postura da atual direção da Caixa. “A Daniella (Marques, presidente da Caixa) entrou falando que faria uma apuração rápida e que as punições seriam rigorosas. Infelizmente, o que parece é que se trata de um discurso da boca pra fora, apenas para abafar as denúncias e minimizar os prejuízos à imagem do candidato à reeleição, pois até agora, passados quase quatro meses, nenhuma denúncia formal foi feita contra Pedro Guimarães”, disse. “Ou vai acabar em pizza, ou ela está segurando a divulgação das apurações para depois do dia 30 de outubro”, completou.

Assédio sexual é crime!

O presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sergio Takemoto, lembra que, no Brasil, o assédio sexual é crime, definido no artigo 216-A do Código Penal, que prevê a pena de detenção de um a dois anos. “Não se pode ‘passar a mão na cabeça’ somente porque se trata de um ex-presidente do banco. Se é culpado, deve responder na Justiça comum pelo que fez, uma vez que o assédio sexual é um crime com pena prevista no Código Penal”, disse.

O grupo de vítimas de assédio sexual cometido dentro da Caixa, enquanto presidida por Pedro Guimarães, se posicionou após falas do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Leia na íntegra a nota das vítimas de assédio sexual na Caixa

"À vista de recente entrevista concedida pelo Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, ao Portal Metrópoles na qual é por ele afirmado não existir “nada de contundente” nas denúncias feitas naquele que ficou publicamente conhecido como o ESCÂNDALO DE ASSÉDIO SEXUAL NA CAIXA e no qual é investigado o ex-presidente daquele órgão, Sr.Pedro Guimarães, em nome e a pedido das VÍTIMAS que representamos na esfera criminal neste caso, temos a dizer:

Um, ser estarrecedor que para o Mandatário da nação não sejam contundentes atos relatados e atribuídos ao presidente de uma instituição do porte da Caixa, que deveria ter instrumentos de controle e governança eficientes, consistentes em violações profundas aos corpos, às imagens e à intimidade de servidoras do órgão; Dois, ser motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para ''massagens'', ''banhos de piscina'' ou idas a ''saunas'' sejam naturalizados e tidos, repetimos, como ''não contundentes'' pelo Chefe do Poder Executivo;

Três, acima de tudo, é motivo de indignação e revolta que, ao minimizar a dor e o sofrimento já expressos em inúmeros depoimentos perante a Corregedoria da Caixa, o Ministério Público do Trabalho e, no âmbito criminal, o Ministério Público Federal, as VÍTIMAS tenham sua PALAVRA posta em dúvida em contribuição ao processo de REVITIMIZAÇÃO que um Presidente da República deveria ter como compromisso combater.

Por fim, em respeito à voz das VÍTIMAS reproduzimos integralmente parte de sua manifestação: “Seria contundente, senhor Presidente da República, se o fato ocorresse com sua esposa ou filha? Acreditamos que sim. Pois saiba que além de mulheres, também somos esposas, filhas, mães e profissionais que foram abusadas, lesadas e agredidas pela conduta de alguém que deveria ser líder, mas que optou por ser algoz. E, assim como em suas duras e desprezíveis palavras, fomos desacreditadas e relegadas à nossa própria sorte pela instituição que deveria garantir nossa integridade. Mas não nos calamos e não iremos nos calar. A verdade, apenas a verdade, é suficientemente contundente para fazer justiça e para que outras mulheres não sofram o mesmo que nós."

Brasília, 25 de outubro de 2022


Entenda o caso

Pedro Guimarães foi acusado de assédio sexual por várias empregadas da Caixa. A informação foi divulgada no dia 28 de junho de 2022 pelo site Metrópoles. Em poucos minutos a notícia ganhou repercussão nacional, em especial na Câmara dos Deputados, onde vários parlamentares pediram em plenário a demissão do executivo.

Segundo a reportagem, no fim de 2021, um grupo de empregadas, ligadas ao gabinete da presidência da Caixa, rompeu o silêncio com uma denúncia, ao Ministério Público Federal (MPF), de assédios sexuais que vinham sofrendo. Desde então, o MPF toca as investigações em sigilo. Cinco das vítimas falaram à reportagem citada sob anonimato.

Nos testemunhos, elas contam que foram abusadas com toques em partes íntimas sem consentimento, falas e abordagens inconvenientes e convites desrespeitosos, por parte do então presidente da entidade. A maior parte dos relatos está ligada a atividades do programa Caixa Mais Brasil, realizadas em todo o país. Pelo programa, desde 2019, ocorreram mais de 140 viagens, em que estavam Pedro Guimarães e equipe. Nesses eventos profissionais, todos ficavam no mesmo hotel, onde ocorriam os assédios.

No dia 29 de junho, Pedro Guimarães entregou ao presidente da República, Jair Bolsonaro, seu pedido de demissão da presidência da Caixa.
Fonte: Contraf-CUT, com edição de Seeb Catanduva

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