28/10/2021

O que significa o lucro do Santander no país do desemprego e da fome?


 
Nos 9 primeiros meses de 2021, o Santander obteve lucro líquido gerencial de R$ 12,467 bilhões, alta de 29,4% em relação ao mesmo período de 2020 e de 4,1% no trimestre. Apenas no terceiro trimestre, o banco espanhol lucrou R$ 4,340 bilhões. Com isso, a operação brasileira representa hoje 27,6% do lucro global do Grupo Santander.

Segundo o balanço divulgado pelo Santander, em doze meses foram fechadas 139 agências e abertos 4.139 postos de trabalho. Porém, o balanço apresenta o número total dos trabalhadores do Grupo Santander. Portanto, as contratações não são necessariamente de bancários, já que podem estar concentradas em outras empresas do grupo como, por exemplo, a F1RST, SX Negócios e a Prospera.

O que significa o lucro do Santander para os seus funcionários

De acordo com a coordenadora da COE Santander (Comissão de Organização dos Empregados do Santander), Lucimara Malaquias, apesar do lucro exorbitante do Santander ser construído pelo esforço e dedicação dos seus funcionários, são estes trabalhadores os que menos usufruem deste resultado.

“O lucro do banco traz o carimbo do adoecimento do bancário, das demissões de trabalhadores em plena pandemia, da sobrecarga de trabalho, do assédio moral, da cobrança abusiva por metas e da terceirização, que na prática significa redução de direitos”, enfatiza a dirigente.

Hoje, somente com o que arrecada com tarifas e serviços, uma receita secundária, o Santander cobre em 220% suas despesas com pessoal, incluindo a PLR. Ou seja, com uma receita secundária o banco consegue pagar mais de duas vezes todas as despesas com seus funcionários.

O banco usa, ainda, da criação de novas empresas no seu grupo, com CNPJs diferentes, para transferir compulsoriamente trabalhadores, retirando-os da categoria bancária, o que acarreta em redução da remuneração total e corte de direitos, uma vez que deixam de contar com a Convenção Coletiva de Trabalho dos bancários e com a força de uma categoria organizada nacionalmente.

Por um lado, vê-se uma queda nas despesas com pessoal, incluída a PLR, e o crescimento do que o banco recebe com tarifas, o que denota redução da massa salarial, e a intensificação do processo de terceirização por empresas do próprio Santander, com redução da remuneração total e corte de direitos. Por outro lado, há o aumento constante das metas e cobranças, independente da conjuntura econômica. Ou seja, os que mais contribuem para o lucro, os trabalhadores, são os que menos usufruem dele. Pelo contrário, são ‘valorizados’ com a precarização das relações de trabalho.

O que significa o lucro do Santander para a sociedade brasileira

Apesar do Brasil responder pela maior parcela do lucro global do Grupo Santander, o banco espanhol não dá o devido retorno à sociedade brasileira, principalmente no caso de uma empresa que opera no país na forma de uma concessão pública.

"Grande parte do setor produtivo do país amarga seguidos prejuízos, e até falências, e o trabalhador sofre com o desemprego e a perda do poder de compra afetado pela desastrosa política econômica de Bolsonaro e Paulo Guedes, crise agravada ainda mais pela pandemia do coronavírus. Mas, o Santander continua a elevar os seus lucros, enquanto segue precarizando as relações de trabalho, fechando agências, demitindo e onerando a Previdência com o enorme número de trabalhadores adoecidos por conta da atividade laboral no banco, que precisam ser afastados. Além disso, segmenta e direciona o crédito para clientes específicos e pratica juros e tarifas abusivos. Não dá mais para manter um modelo em que só especuladores e banqueiros ganham e todo o resto da classe da trabalhadora e da sociedade perdem", ressalta o diretor do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Eduardo Campolungo.

E, como se não bastasse, o Santander irá comemorar o resultado do banco com uma festa, para a qual foram convidados seus mais de 45 mil funcionários, em plena pandemia.

Com essa festa, o Santander zomba de um país com mais de 600 mil mortos pela Covid-19, que atravessa um dos períodos mais difíceis da sua história, com crises econômica, política e social gravíssimas. Com grande parte da população sendo obrigada a, quando consegue, comer ossos de boi, banda de feijão e farelo de arroz para tentar matar a fome.

 "A comemoração pública e coletiva num momento crítico, com centenas de milhares de mortos e com a variante delta avançando, é uma insensatez e um desrespeito com os seus trabalhadores e com a população brasileira. Comemorar o lucro astronômico parece muito relevante para a direção do banco. O que parece não ter relevância é a triste realidade do país, com milhares de desempregados, com milhares passando fome. Comemorar sua lucratividade às custas da exploração de clientes e do adoecimento de funcionários devido à pressão por metas e sobrecarga de trabalho, ocasionada pelas demissões, é desumano, de uma irresponsabilidade social sem limites e completamente desrespeitoso. Cadê o banco que é retratado nas propagandas?, questiona o diretor do Sindicato.
Fonte: Seeb SP, com edição de Seeb Catanduva

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