26/02/2021

Gestão pelo medo segue na Caixa com metas desumanas e assédio aos empregados



Créditos, financiamentos, novas contas, empréstimos e seguros. Esses são alguns dos diversos produtos no rol de vendas dos empregados da Caixa e que vem sendo alvo das metas do banco. Sem debate com os trabalhadores, a Caixa tem aumentado os objetivos do Conquiste, o sistema de mensuração e acompanhamento de resultados do banco. A consequência dessa medida está por todo Brasil, empregados sobrecarregados, doentes e muitos com um medo comum: perder a função. 

Não é de hoje que a Caixa cobra metas desumanas dos empregados. No entanto, as mudanças se intensificaram em 2020, durante a pandemia. Ainda no final do ano, o banco aumentou as metas faltando pouco mais de 30 dias para o fechamento do semestre, deixando pouco tempo para os empregados alcançarem o que foi imposto pela Caixa. Em outra decisão, de outubro de 2020, a direção da Caixa aumentou em R$ 2 milhões a meta de consignado do INSS em algumas agências. Os trabalhadores deveriam cumprir mais de 120% das metas de venda de produtos.

Empregado em home office, L.F., que preferiu não se identificar, contou que a competitividade entre os empregados aumentou muito. "Virou uma guerra. Todos temos que fazer tudo ao mesmo tempo e essa pressão tem forçado muitos colegas a sair da agência", avaliou. Segundo L.F. a prioridade é a venda, não o atendimento e apesar de ter diminuído alguns objetivos, outros continuaram altos. "Muitas metas se mantiveram, como seguros. Acredito que para inflar o setor e fazer o IPO".

Para o empregado, o maior medo é não alcançar o que está sendo proposto pelo banco. "Mesmo com toda a minha dedicação, meu medo é não conseguir fazer as metas, receber um feedback estruturado e perder a minha função", relatou.

O feedback estruturado citado por L.F., é conhecido dos empregados. Uma espécie de avaliação do trabalhador, feita para apontar ao empregado que ele não cumpriu alguma atividade e a consequência é o descomissionamento sem direito a incorporação.

Há casos mais graves, em que o remédio é a única solução para o medo. Empregado há 26 anos, D.M. não viu outra opção senão buscar ajuda médica. "Eu ainda estou tomando remédio para ansiedade e para dormir. Estou sentindo na pele o resultado dessa pressão e das metas. Estamos esgotados e agora conto os dias para a aposentadoria", revelou.

Outro medo recorrente é de perder o emprego após a privatização. "Hoje a Caixa é só lucro e lucro! Não temos escolha. Meu maior medo, primeiro, é a privatização e depois de eu não conseguir a meta e eles aplicarem alguma penalidade. Eu vejo que muitos colegas estão sendo massacrados. As vezes uma palavra que você fala já fica marcado e isso é muita pressão na nossa cabeça", contou.

O adoecimento dos empregados em decorrência das metas e assédio vem sendo observada em todo o país. Na visão da médica e pesquisadora em Saúde do Trabalhador com Doutorado em Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Dra. Maria Maeno, o mesmo comportamento é visto em geral no setor público, como na saúde, por exemplo. Para ela, são vários os pontos que levam ao adoecimento.

"Acho que esse conjunto de distorção dos objetivos de um banco público, a possibilidade de privatização, pressão para o cumprimento de metas, controles exceção leva a uma situação de adoecimento coletivo", avaliou.

Para a pesquisadora, as metas inatingíveis estão adoecendo os empregados em um momento em que os empregados estão sendo fundamentais, neste contexto de pandemia. Segundo Maeno, há um desprezo pelo setor público no Brasil.

Vemos na Europa, por exemplo, é visto como primordial para avançar na economia, proteger a saúde da população. Mas nosso governo está fazendo ao contrário, desprestigiando o setor público. Ameaçando de privatização aquilo que não pode ser ameaçado", afirmou.

Reivindicações

São incontáveis as reivindicações para a diminuição das metas. A Comissão Executiva dos Empregados (CEE), em mesa de negociação, há tempos solicita a reavaliação dos objetivos. Diversos ofícios já foram enviados cobrando a direção do banco, mas sem respostas. Durante a Campanha Nacional 2020, o assunto também foi tratado. O pedido foi para que a Caixa deixasse de cobrar as metas enquanto perdurar a pandemia.

No dia 12 de fevereiro, a Caixa reduziu parte das metas do Conquiste de fevereiro e março. As metas do Conquiste, aumentadas em outubro de 2020, também foram reavaliadas, após uma grande cobrança da CEE.

Mas não é o bastante, os empregados seguem com metas desumanas. “É uma falta de respeito o que a Caixa está fazendo com os empregados. Os empregados estão trabalhando a exaustão seja no home office, seja nas unidades. Temos cobrado a Caixa incansavelmente, não podemos deixar os colegas adoecerem. Não somos contra às metas, somos contra as metas desumanas que sobrecarregam os empregados", afirmou a coordenadora da Comissão, Fabiana Uehara Proscholdt.

Para o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto, é absurdo o que a direção da Caixa está fazendo com os empregados. “O que a Caixa está impondo aos trabalhadores é irracional. Muitos colegas estão adoecendo por conta dessas metas. E se a Caixa não contrata mais trabalhadores, o peso fica ainda maior. Temos um déficit de 19 mil empregados. A meta da direção Caixa deveria ser preservar vidas dos empregados e da população”, finalizou Takemoto.

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Fonte: Fenae, com edição de Seeb Catanduva

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