17/12/2020

Bancos fecharam 1.444 agências em um ano e já demitiram mais de 12 mil trabalhadores



Levantamento realizado pela agência de notícias norte-americana Bloomberg junto ao Banco Central, divulgado na quarta-feira (16), constatou que os bancos brasileiros estão fechando agências em ritmo mais rápido em relação aos últimos três anos. Um total de 1.444 agências foram fechadas no País, de novembro de 2019 a novembro deste ano. Também tem sido grande o número de profissionais demitidos nos últimos anos.

O levantamento chamou a atenção para a situação da Caixa Econômica Federal. A entidade, na contramão da tendência de encerramento e atividades de agências, fechou apenas duas delas, mas por outro lado eliminou 3.896 empregos no mesmo período.

Para as entidades de representação dos empregados, o déficit de trabalhadores desse banco público coloca em risco a capacidade e qualidade da assistência à sociedade.

Conforme cálculos da Federação, feitos até 20 de novembro, esse déficit no quadro de pessoal da Caixa supera 17 mil profissionais (o banco conta atualmente com 84,2 mil empregados. Tinha 101,5 mil trabalhadores em 2014).

O diretor do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Antônio Júlio Gonçalves Neto, ressalta que a demissão de tantos trabalhadores sem a reposição pela contratação de novos empregados, além de precarizar as condições de trabalho e sobrecarregar aqueles que permanecem nas agências, pode prejudicar o atendimento à população, sobretudo neste momento, em que o país enfrenta uma grave pandemia.

Recentemente, a Caixa reabriu o seu Programa de Desligamento Voluntário (PDV). Para o Sindicato, essa reabertura, logo após o início de uma reestruturação, sem nenhum planejamento, pode ser uma tentativa da direção do banco de pressionar os empregados pela adesão ao programa. O diretor reforça que, caso o empregado se sinta pressionado ou coagido a aderir, deve denunciar imediatamente aos dirigentes sinciais.

A questão também chama a atenção por conta do atendimento social feito pela Caixa. Além de ser responsável pelas principais linhas de financiamento habitacional do país, o banco 100% público é responsável pela gestão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), bem como o pagamento do Bolsa Família e de benefícios diversos – como aconteceu mais recentemente com o auxílio emergencial.

Com o pagamento do auxílio, a Caixa mostra mais uma vez ao país a importância de ter uma empresa pública forte e voltada para o desenvolvimento social e econômico dos brasileiros. Os trabalhadores da Caixa estão na linha de frente da crise sanitária, mantendo o atendimento de um serviço essencial à população e enfrentando diariamente os riscos da exposição ao vírus. Extrapolam o horário, têm trabalhado aos sábados, numa rotina estressante.

Pandemia e fintechs

Os dados do Banco Central divulgados pela Bloomberg também mostraram que um dos fatores apontados para o corte de agências, na opinião de vários representantes de instituições financeiras, tem sido o impacto das medidas de restrição por causa da Covid-19, que obrigam clientes a usarem mais serviços pela internet ou telefone. Contribuiu, também, a competição crescente das agências bancárias com as fintechs (nome dado às empresas de base tecnológica que atuam para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro).

Por meio desse mesmo levantamento, ficou constatado que entre os cinco maiores bancos brasileiros, o Bradesco SA foi o mais agressivo nos 12 meses até setembro, fechando 772 agências. Foi seguido pelo Itaú com 203 agências fechadas, segundo balanços das duas instituições.

Também em relação a cortes de empregos o crescimento foi grande. Os bancos cortaram 26% a mais de vagas nos 12 meses até setembro, em comparação com a média de 2013 a 2019, segundo dados do Ministério da Economia compilados pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo.

O Banco Santander SA lidera a lista. Lá foram cortados 4.335 empregos, de acordo com seu balanço. Já o Itaú foi o único banco com aumento no quadro de funcionários. Mais de 2.000 pessoas se juntaram à sua equipe de tecnologia, incluindo as vindas da Zup I.T. Serviços em Tecnologia e Inovação Ltda. – empresa adquirida pela instituição financeira.

Para se ter ideia, após cortes em outras áreas, as vagas adicionadas no Itaú em 12 meses até setembro foram de 736, segundo seu balanço. Antes da pandemia, o Itaú abria em média 250 mil a 270 mil novas contas por mês, por meio de canais eletrônicos. No segundo trimestre, o número atingiu o recorde de 645 mil, antes de cair para 512 mil no terceiro trimestre.

Em sentido contrário a esse movimento de fechamento de agências, além da Caixa, destacou-se também o Banco do Brasil, que aumentou em 67 o número de agências nos 12 meses até setembro.

Desempregos em alta
           
No quesito desemprego, os dados divulgados pela Bloomberg mostram que, no período entre 2013 até novembro passado, os bancos eliminaram mais de 72.500 empregos, segundo estudos realizados a partir de números oficiais do Ministério da Economia.

Isso se compara a mais de 40.000 pessoas que começaram a trabalhar em startups do setor financeiro no Brasil desde 2015. Somente a Caixa Econômica, eliminou 3.896 empregos nos últimos 12 meses.

A avaliação do presidente da Fenae, Sergio Takemoto, é de que no caso dos bancos públicos, as demissões acontecem porque o Executivo não tem compromisso com os trabalhadores. “Em outros países, o Governo Federal não deixaria empresas lucrativas demitirem”, frisou ele.

Cumprindo a missão

Em relação aos empregados da Caixa propriamente, Takemoto contou que 70% deles estão trabalhando em sistema de home office neste período de pandemia e se empenhado para levar um bom trabalho para a população.

Ele também parabenizou os empregados da Caixa, que segundo destacou, “estão cumprindo corretamente com a missão do banco público que é atender a população mais carente”.

Já a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira Leite, criticou o fato de os bancos brasileiros terem investido R $24,6 bilhões em tecnologia no ano passado e não terem distribuído igualmente esses investimentos com funcionários e clientes.

“Gostamos da tecnologia também, não somos contra, mas queremos que os lucros obtidos sejam compartilhados com a sociedade, incluindo funcionários de bancos e clientes”, disse Juvandia.

De acordo com a representante da Contraf-CUT, as tarifas bancárias ainda são muito altas, enquanto os clientes “são obrigados a fazer autoatendimento em plataformas digitais ou a esperar em filas enormes, deixando os funcionários sobrecarregados”.

O Sindicatos segue na luta pelo fim das demissões. recentemente, conseguiu na Justiça a reintegração de dois bancários do Bradesco demitidos injustamente pelo banco, descumprindo o direito de estabilidade pré-aposentadoria garantido pela Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria. 

"Além das ações judiciais, temos realizado semanalmente protestos em frente às agências para denunciar à população a falta de responsabilidade social dos bancos e a quebra do comprimisso firmado com os trabalhadores e o movimento sindical de não demissão na pandemia. Também estamos realizando mobilizações virtuais, através dos tuitaços, com o objetivo de desconstruir a imagem vendida pelas instituições financeiras em suas publicidades, que não condiz com aquilo que praticam. A sociedade precisa saber que as empresas que mais lucram, mesmo em meio a maior crise econômica e sanitária vivida pelo país nos últimos 100 anos, são também as que mais exploram e demitem. Colocam milhares de pais e mães de família no olho da rua no momento em que mais precisam de seus empregos, sem considerar a dedicação que tiveram ao trabalho ao longo de anos, se estão em tratamento de saúde ou próximos de se aposentarem. É um verdadeiro descaso. Total desumanidade dos bancos com quem tem se ariscado desde o início da pandemia para atender a população e contribuir com seus lucros bilionários", denuncia o presidente do Sindicato, Roberto Carlos Vicentim. 

As entidades representativas dos empregados da Caixa também estão promovendo um abaixo-assinado por mais contratações no banco público. Participe você também e fortaleça essa campanha.

Acesse o link e assine o abaixo-assinado para mais contratações na Caixa.
 
Fonte: Fenae, com edição de Seeb Catanduva

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