29/07/2020
Empresa do conglomerado do Banco do Brasil daria retorno maior à carteira cedida ao BTG
No começo de julho, o Banco do Brasil anunciou a venda de carteiras de crédito, a maioria em perdas, a um fundo do BTG Pactual, banco fundado na década de 1980 pelo ministro da Fazenda, Paulo Guedes. Na ocasião, em comunicado, o banco informou se tratar da primeira cessão de carteira do BB a um banco que não pertence ao seu conglomerado. A carteira cedida tem valor contábil de R$ 2,9 bilhões e o impacto financeiro da transação será de R$ 371 milhões, antes dos impostos, que serão lançados no terceiro trimestre.
A transação no mínimo suspeita repercutiu na imprensa e foi objeto de um requerimento na Câmara protocolado pelo deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ). No documento, o parlamentar cobra esclarecimentos sobre a venda. Além disso, a bancada do PSOL na Câmara protocolou um convite ao comparecimento do presidente do BB à época, Rubem Novaes, para também prestar informações aos deputados.
Todavia, dentro do conglomerado do Banco do Brasil há uma empresa, a Ativos S.A., que faz a operação de recuperação de créditos baixados em perdas de terceiros. Segundo balanço de 2019, a empresa fechou o ano com um lucro líquido de R$ 210 milhões, um aumento de R$ 76 milhões, em termos nominais, na comparação com 2018. Também em 2019, o retorno sobre patrimônio líquido (RSPL) da Ativos foi de 23%, ante 15% no ano anterior.
“Por que, ao invés da cessão da carteira com um deságio de 90% para o banco fundado pelo Paulo Guedes, o BB não a repassou para a Ativos, que hoje traz uma taxa de retorno de 23% ao banco?”, indaga o dirigente sindical João Fukunaga, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil.
“A Ativos consegue compor mais um novo patrimônio em praticamente quatro anos. É uma empresa que dá uma excelente rentabilidade ao BB, e não faz sentido ceder uma carteira para um fundo privado. Há muito ainda o que ser explicado sobre esse episódio e ainda sobre uma suposta concorrência com quatro empresas especializadas divulgada à mídia pela direção do banco logo após a repercussão do repasse da carteira de crédito”, acrescenta o dirigente.
Curiosamente, lembra Fukunaga, a saída de Rubem Novaes do comando do BB aconteceu dias após a repercussão da transação. “Lembremos que Rubem Novaes, além de ingerência política no BB desde a sua nomeação e uma série de violações, também é alvo potencial do inquérito de fake news do STF, sobre o repasse de verbas públicas em publicidade para sites bolsonaristas que pulverizam notícias falsas para atacar inimigos. E deve ser investigado”, finaliza.
O presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região, Roberto Carlos Vicentim acrescenta que, há ainda a informação de que algumas superintendências têm feito reuniões com os gerentes gerais informando que o banco será privatizado em, no máximo, três anos. "Além de prejudicial aos funcionários e ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, a privatização do BB traria consequências nefastas à maioria dos brasileiros, pois afetaria principalmente o financiamento da agricultura familiar, encarecendo o valor dos alimentos à mesa da população", alerta.
"A defesa do Banco do Brasil e da sua função social e a defesa dos direitos dos funcionários são pautas indissociáveis. Diante de um governo extremamente privatista, temos que estar todos unidos e mobilizados para defender nossos empregos, direitos e a manutenção do BB como instituição fundamental para o desenvolvimento do país”, reforça Vicentim.
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