18/04/2019

Caixa Econômica Federal: de indutora do desenvolvimento à “puxa fila da privatização”


(Arte: Thiago Akioka)
 

De banco público indutor do desenvolvimento econômico e social, a Caixa Econômica Federal está se transformando no “puxa-fila” das privatizações brasileiras. É dessa forma que a instituição vem sendo apontada na imprensa tradicional, após os anúncios de venda das operações mais rentáveis do banco, feitos pela atual direção da empresa ao mercado financeiro. Um exemplo é a manchete da editoria de Economia do jornal O Estado de São Paulo de terça-feira (16): “Caixa puxa fila da 'redução do Estado' e avança no preparo de venda de ativos”.

O texto enfatiza as últimas medidas da direção do banco. Além de anunciar a venda de parte das áreas mais rentáveis (loterias, cartões, ativos e seguridade), o banco passou a se desfazer dos ativos de maior liquidez, a participação em outras empresas e fundos. Vendeu sua parte no IRB e agora se prepara para se desfazer de parte da Petrobras.

Privatizando "na surdina" 

Na semana passada, para uma plateia de banqueiros e agentes do sistema financeiro internacional nos Estados Unidos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou: “Discretamente, sem fazer barulho, já vendemos US$ 12 bilhões”. A afirmação foi feita durante evento organizado pela XP Investimentos. Ele garantiu que, na surdina, o governo já está implementando a venda dos bens nacionais. “Nossa meta é vender US$ 20 bilhões este ano”, disse ainda.

O ministro também deixou claro que se depender do atual governo, o Brasil em breve não terá mais uma empresa estatal de petróleo.

“O governo atual está entregando o patrimônio nacional a preço de banana e isso inclui as operações mais rentáveis da Caixa, encolhendo sua função social com o objetivo de deixar o banco deficitário e forçar a população a desaprovar a atuação da empresa pública”, afirma Dionísio Reis, coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa.

Dia 26: leilão da Lotex 

No dia 26 está previsto o leilão de entrega da Lotex, a parte mais lucrativa das loterias da Caixa. Em 2017, as loterias Caixa registraram, de forma global, arrecadação próxima a R$ 14 bilhões. Desse montante, quase metade (48%) foi destinada aos programas sociais. Se a venda for efetivada, o montante deverá ser reduzido drasticamente, já que o leilão prevê repasse social de apenas 16,7%.

“A real intenção dessa política de sucateamento e encolhimento é a descapitalização completa da Caixa, visando sua privatização. Uma medida que não favorece absolutamente ninguém, com exceção dos bancos privados, que terão ainda menos concorrência em um setor já extremamente concentrado, e que com a eventual privatização ou fechamento da Caixa poderão cobrar juros ainda mais elevados”, acrescenta Dionísio.

O Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região tem feito reuniões e mobilizações nas agências da Caixa lotadas em sua base territorial, bem como  ações com a população em defesa do banco e demais empresas públicas. 

Será realizado um Dia Nacional de Luta em todo o país no próximo dia 26 e é fundamental que os empregados e a população participem, pois os empregos dos trabalhadores estão em risco.

“Esvaziar os fundos governamentais, um por um”

A reportagem do Estadão informa que a segunda operação de venda, a de ações da Petrobras, poderá render um volume de recursos de R$ 9 bilhões. Para essa operação, foram contratadas quatro instituições privadas: Bank of America, XP Investimentos, Morgan Stanley e UBS. Tudo será feito a partir dos papéis detidos pelo FI-FGTS, de modo a, segundo texto da reportagem, "esvaziar os fundos governamentais, um por um.” A ideia é aproximar a atuação da Caixa à de um banco de investimento.

Possuir ações da Petrobras, do IRB e de outras participações acionárias está vinculada com a história de atuação da Caixa e de fortalecimento do setor público. Com a venda dessas ações para o setor privado, tanto Petrobras quanto o IRB passarão a ter função menos pública após a venda da participação do banco.

A reportagem sobre a Caixa informa ainda que a “desova de ativos” por parte do banco público mira também a abertura do capital da Caixa Seguridade, holding que concentra as operações do setor no banco. Concluída a reestruturação da área, o próximo passo será o IPO da rede de loterias, a depender do trâmite regulatório.  O de seguros vem na sequência, seguido pelo de gestão de recursos e pela operação de cartões. Serão vendidos ainda imóveis e agências por todo o país. “O resultado dessa política de redução da Caixa será o fechamento de postos de trabalho e de agências e a diminuição do seu papel social”, segundo o jornal.

O diretor do Sindicato, Antônio Júlio Gonçalves Neto, enfatiza a importância de os empregados e a sociedade defenderem a Caixa e as demais empresas públicas. "Empregados e sociedade, juntos, precisam estar atentos ao que se pretende em relação ao banco nos dias de hoje, pois é isso que vai determinar a Caixa que teremos no futuro. Defendemos um banco público que siga a serviço dos brasileiros, forte e lucrativo, atuando nos mais diversos setores da economia. Qualquer retrocesso nesse perfil vai beneficiar somente o setor privado, que visa o rentismo, sem qualquer preocupação com o social e a vida dos mais pobres."
Fonte: Seeb SP, com edição de Seeb Catanduva

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