22/03/2019
Rita Serrano critica especulações sobre balanço e destaca preocupação com a Caixa
Nas últimas semanas, a Caixa Econômica Federal foi alvo de especulações na imprensa, com notícias conflituosas sobre o balanço de 2018 e a venda de seus ativos. Preocupada com esta exposição, que pode trazer consequências negativas à imagem do banco, a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração, Maria Rita Serrano, cobrou esclarecimentos à direção da empresa.
Em entrevista à Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), ela destacou, entre outras questões, que as alterações na estrutura podem ameaçar a sustentabilidade da Caixa no médio prazo. “Nossa preocupação maior é se a Caixa será sustentável daqui a 10 ou 15 anos”, disse Rita Serrano, que foi eleita conselheira pelos empregados em 2017, após encerrar seu mandato como suplente, iniciado em 2013, quando ocorreu a primeira eleição para essa função no banco.
Natural de Santo André (SP), ela é Graduada em História, possui mestrado em Administração e especialização em Governança para Conselheiros de Administração. Empregada da Caixa desde 1989, já foi presidente do Sindicato dos Bancários do ABC por dois mandatos, entre 2006 e 2012. Lançou em 2018 o livro Caixa, Banco dos brasileiros.
Em entrevista à Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), ela destacou, entre outras questões, que as alterações na estrutura podem ameaçar a sustentabilidade da Caixa no médio prazo. “Nossa preocupação maior é se a Caixa será sustentável daqui a 10 ou 15 anos”, disse Rita Serrano, que foi eleita conselheira pelos empregados em 2017, após encerrar seu mandato como suplente, iniciado em 2013, quando ocorreu a primeira eleição para essa função no banco.
Natural de Santo André (SP), ela é Graduada em História, possui mestrado em Administração e especialização em Governança para Conselheiros de Administração. Empregada da Caixa desde 1989, já foi presidente do Sindicato dos Bancários do ABC por dois mandatos, entre 2006 e 2012. Lançou em 2018 o livro Caixa, Banco dos brasileiros.
Confira a entrevista:
Fenae: Como a senhora avalia as informações veiculadas na imprensa sobre o balanço da Caixa?
Rita Serrano: O balanço ainda não passou pelo Conselho de Administração. Precisamos aguardar a divulgação dos números oficiais para avaliar e emitir um posicionamento. Mas na última reunião do CA, eu cobrei esclarecimentos sobre as especulações relacionadas ao balanço. É inaceitável que o debate sobre o balanço de um banco com a dimensão da Caixa esteja nos jornais, antes de estar publicado e auditado. Isto traz consequências sérias à imagem do banco. Outra questão preocupante é a avalanche de notícias que todos os dias aparecem nas manchetes de jornais versando sobre a privatização de operações e outros temas estratégicos do banco.
Fenae: A imprensa destaca um possível provisionamento de R$ 7 bilhões para cobrir supostas perdas com dívidas. Isto causou preocupação entre os empregados porque pode impactar no pagamento da segunda parcela da PLR ?
Rita Serrano: Como já afirmei, tudo o que se falou até agora são especulações. O que nós temos de concreto é que, no final do terceiro trimestre de 2018, o banco teve lucro de R$ 11,5 bi. Por isso, há expectativa de que o resultado do ano passado seja superior a esse valor. Como já aconteceu antes, eventos extraordinários podem ocasionar resultado menor que o esperado. O importante, caso isso ocorra, é o banco explicar as razões. Se houver alguma distorção, obviamente meu papel será questionar. Com essas especulações, a Caixa ganhou mais de 80 mil fiscalizadores, que são os empregados. É por isso que nós defendemos a empresa pública, porque a empresa pública tem maior controle social. Por que ninguém está discutindo o lucro estrondoso do Itaú e as razões que levaram o banco a ter esse lucro expressivo num momento de crise? Não, se discute o lucro da Caixa, justamente porque tem controle social e a sociedade e os empregados são fiscalizadores do banco. Com relação a PLR, pelo Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), o banco tem até 31 de março para pagar a segunda parcela e eu acredito que a regra será cumprida.
Fenae: A atual gestão do banco já fala em uma nova reestruturação. Qual o objetivo dessas mudanças?
Rita Serrano: Sobre reestruturação, por regra de sigilo do CA, não posso tratar do assunto, até ele ser oficial. Mas, na minha opinião, tem um debate que precede qualquer discussão sobre essas mudanças: é se a Caixa vai ter sustentabilidade no médio prazo. Se forem vender tudo o que o governo pretende, qual banco que vai sobrar? Desde o governo Temer, a Caixa vem encolhendo por conta da redução dos investimentos sociais. Programas, como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, sofreram reduções drásticas. O próprio Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), com o nível de desemprego alto e com a “pejotização”, por conta da reforma trabalhista, também está sendo atacado. O governo ganhou a eleição afirmando que não iria privatizar Caixa, BB e Petrobrás. No entanto, em evento ocorrido no dia 15 de março com os presidentes dessas empresas públicas, o discurso já era outro. É preciso deixar claro que há várias formas de privatizar: pode ser no todo ou em partes. Como tudo indica, o desenho para a Caixa é vender o que é rentável. Então, que banco ficará para o futuro? Não sabemos, por isso esse debate precisa ser feito junto aos brasileiros, que são os verdadeiros donos do patrimônio público.
Fenae: Este é um cenário negativo para os trabalhadores da Caixa, uma ameaça aos empregos...
Rita Serrano: A Caixa já perdeu 17 mil empregados. Em 2014, havia em torno de 101 mil trabalhadores. Hoje, estamos com cerca de 84 mil. A direção do banco divulgou à imprensa a possibilidade de contratar 2 mil profissionais do último concurso, mas já saíram 17 mil. E os jornais noticiam a possibilidade de um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV). O enxugamento de pessoal e redução das operações, que vem ocorrendo não só com a Caixa, mas com o Banco do Brasil também, só favorece o sistema financeiro privado e agrava a concentração bancária no Brasil e os altos juros.
Fenae: O que significa não ter banco público para o desenvolvimento do país?
Rita Serrano: As consequências já aparecem. Temos a redução dos investimentos em saneamento, habitação e em outras áreas que têm os bancos públicos como principais financiadores. Outro impacto é a precarização das condições de trabalho e do atendimento nas agências. No primeiro trimestre de 2018, a Caixa chegou a liderar o ranking de reclamações no Banco Central. Os empregados trabalham sobrecarregados. Se você imaginar que nós perdemos 17 mil empregados e as metas só aumentaram...
Fenae: O que fazer diante de todo este cenário de incertezas?
Rita Serrano: A história de organização dos empregados da Caixa é de vitória. Na década de 1990, a Caixa esteve sob forte ameaça de privatização – demitiu trabalhadores, fechou agências e foram oito anos sem reajustes salariais. Os empregados resistiram bravamente com o apoio da sociedade. A partir de 2003, a Caixa voltou a crescer, ampliou sua atuação e a sua função social ganhou destaque, além de atuar no mercado, concorrendo com os bancos privados. Neste momento, os empregados têm de fazer aquilo que historicamente sabem fazer: se organizar e defender o papel do banco e a importância que tem para o País. São 84 mil formadores de opinião, profissionais qualificados, que acreditam na gestão pública, e lidam com mais de 80 milhões de clientes de forma direta ou indireta. O banco só vai existir, de fato, se tiver foco no desenvolvimento do Brasil.
Fenae: Como a senhora avalia a importância do representante dos trabalhadores no Conselho de Administração?
Rita Serrano: Se compararmos a legislação do Brasil com a de outros países, ainda estamos engatinhando. Na Alemanha, por exemplo, metade dos conselheiros de empresas públicas e privadas é eleito. A instituição dos conselheiros, ocorrida em 2010 e depois incorporada na Lei das Estatais, em 2016, representa um avanço no processo de democratização da gestão e de ampliação do controle social. O conselheiro tem a função de fiscalizador da empresa. Nesse momento de ataque, nosso papel se amplia no sentido de que temos de defender os direitos dos trabalhadores e a manutenção da Caixa pública. É um momento de muita pressão, mas também de união, de coesão dos empregados, das entidades sindicais e associativas. Isso garante convicção de que estamos no caminho certo.
Rita Serrano: O balanço ainda não passou pelo Conselho de Administração. Precisamos aguardar a divulgação dos números oficiais para avaliar e emitir um posicionamento. Mas na última reunião do CA, eu cobrei esclarecimentos sobre as especulações relacionadas ao balanço. É inaceitável que o debate sobre o balanço de um banco com a dimensão da Caixa esteja nos jornais, antes de estar publicado e auditado. Isto traz consequências sérias à imagem do banco. Outra questão preocupante é a avalanche de notícias que todos os dias aparecem nas manchetes de jornais versando sobre a privatização de operações e outros temas estratégicos do banco.
Fenae: A imprensa destaca um possível provisionamento de R$ 7 bilhões para cobrir supostas perdas com dívidas. Isto causou preocupação entre os empregados porque pode impactar no pagamento da segunda parcela da PLR ?
Rita Serrano: Como já afirmei, tudo o que se falou até agora são especulações. O que nós temos de concreto é que, no final do terceiro trimestre de 2018, o banco teve lucro de R$ 11,5 bi. Por isso, há expectativa de que o resultado do ano passado seja superior a esse valor. Como já aconteceu antes, eventos extraordinários podem ocasionar resultado menor que o esperado. O importante, caso isso ocorra, é o banco explicar as razões. Se houver alguma distorção, obviamente meu papel será questionar. Com essas especulações, a Caixa ganhou mais de 80 mil fiscalizadores, que são os empregados. É por isso que nós defendemos a empresa pública, porque a empresa pública tem maior controle social. Por que ninguém está discutindo o lucro estrondoso do Itaú e as razões que levaram o banco a ter esse lucro expressivo num momento de crise? Não, se discute o lucro da Caixa, justamente porque tem controle social e a sociedade e os empregados são fiscalizadores do banco. Com relação a PLR, pelo Acordo Coletivo de Trabalho (ACT), o banco tem até 31 de março para pagar a segunda parcela e eu acredito que a regra será cumprida.
Fenae: A atual gestão do banco já fala em uma nova reestruturação. Qual o objetivo dessas mudanças?
Rita Serrano: Sobre reestruturação, por regra de sigilo do CA, não posso tratar do assunto, até ele ser oficial. Mas, na minha opinião, tem um debate que precede qualquer discussão sobre essas mudanças: é se a Caixa vai ter sustentabilidade no médio prazo. Se forem vender tudo o que o governo pretende, qual banco que vai sobrar? Desde o governo Temer, a Caixa vem encolhendo por conta da redução dos investimentos sociais. Programas, como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, sofreram reduções drásticas. O próprio Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), com o nível de desemprego alto e com a “pejotização”, por conta da reforma trabalhista, também está sendo atacado. O governo ganhou a eleição afirmando que não iria privatizar Caixa, BB e Petrobrás. No entanto, em evento ocorrido no dia 15 de março com os presidentes dessas empresas públicas, o discurso já era outro. É preciso deixar claro que há várias formas de privatizar: pode ser no todo ou em partes. Como tudo indica, o desenho para a Caixa é vender o que é rentável. Então, que banco ficará para o futuro? Não sabemos, por isso esse debate precisa ser feito junto aos brasileiros, que são os verdadeiros donos do patrimônio público.
Fenae: Este é um cenário negativo para os trabalhadores da Caixa, uma ameaça aos empregos...
Rita Serrano: A Caixa já perdeu 17 mil empregados. Em 2014, havia em torno de 101 mil trabalhadores. Hoje, estamos com cerca de 84 mil. A direção do banco divulgou à imprensa a possibilidade de contratar 2 mil profissionais do último concurso, mas já saíram 17 mil. E os jornais noticiam a possibilidade de um novo Programa de Demissão Voluntária (PDV). O enxugamento de pessoal e redução das operações, que vem ocorrendo não só com a Caixa, mas com o Banco do Brasil também, só favorece o sistema financeiro privado e agrava a concentração bancária no Brasil e os altos juros.
Fenae: O que significa não ter banco público para o desenvolvimento do país?
Rita Serrano: As consequências já aparecem. Temos a redução dos investimentos em saneamento, habitação e em outras áreas que têm os bancos públicos como principais financiadores. Outro impacto é a precarização das condições de trabalho e do atendimento nas agências. No primeiro trimestre de 2018, a Caixa chegou a liderar o ranking de reclamações no Banco Central. Os empregados trabalham sobrecarregados. Se você imaginar que nós perdemos 17 mil empregados e as metas só aumentaram...
Fenae: O que fazer diante de todo este cenário de incertezas?
Rita Serrano: A história de organização dos empregados da Caixa é de vitória. Na década de 1990, a Caixa esteve sob forte ameaça de privatização – demitiu trabalhadores, fechou agências e foram oito anos sem reajustes salariais. Os empregados resistiram bravamente com o apoio da sociedade. A partir de 2003, a Caixa voltou a crescer, ampliou sua atuação e a sua função social ganhou destaque, além de atuar no mercado, concorrendo com os bancos privados. Neste momento, os empregados têm de fazer aquilo que historicamente sabem fazer: se organizar e defender o papel do banco e a importância que tem para o País. São 84 mil formadores de opinião, profissionais qualificados, que acreditam na gestão pública, e lidam com mais de 80 milhões de clientes de forma direta ou indireta. O banco só vai existir, de fato, se tiver foco no desenvolvimento do Brasil.
Fenae: Como a senhora avalia a importância do representante dos trabalhadores no Conselho de Administração?
Rita Serrano: Se compararmos a legislação do Brasil com a de outros países, ainda estamos engatinhando. Na Alemanha, por exemplo, metade dos conselheiros de empresas públicas e privadas é eleito. A instituição dos conselheiros, ocorrida em 2010 e depois incorporada na Lei das Estatais, em 2016, representa um avanço no processo de democratização da gestão e de ampliação do controle social. O conselheiro tem a função de fiscalizador da empresa. Nesse momento de ataque, nosso papel se amplia no sentido de que temos de defender os direitos dos trabalhadores e a manutenção da Caixa pública. É um momento de muita pressão, mas também de união, de coesão dos empregados, das entidades sindicais e associativas. Isso garante convicção de que estamos no caminho certo.
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