05/04/2017

Direção da Caixa Econômica Federal culpa seus empregados pelo lucro menor em 2016

Na tentativa de justificar o injustificável - o lucro líquido de R$ 4,1 bilhões em 2016, enquanto as projeções apontavam para R$ 6,7 bilhões - a direção da Caixa Econômica Federal reforça o total desrespeito com que trata seus empregados. Em comunicado enviado aos trabalhadores, em que trata da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), citou como um dos motivos do resultado ruim do ano passado o “longo período de greve” da categoria.

O diretor do Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região Antônio Júlio Gonçalves Neto, o Tony, critica comunicado enviado aos empregados e o oportunismo ao culpar o “longo período de greve” pela redução nos lucros. “O lucro menor e o valor pago aos empregados referente à segunda parcela da PLR são de inteira responsabilidade da Caixa. É um absurdo a direção tentar transferir a culpa, quando o que houve, na verdade, foi uma falha grotesca na projeção divulgada em setembro do ano passado". 

A Caixa não ouve a Caixa

Apesar de reconhecer que a queda é consequência da crise econômica – mesmo sem apontar a política neoliberal empregada pelo governo Michel Temer como a causa - o banco apresentou seus resultados demonstrando surpresa. Na nota distribuída aos empregados na qual justifica a queda do lucro, a administração argumenta que “a contratação de crédito caiu mais de 12%”.

No entanto, seria bom que a direção da Caixa recordasse o que seu presidente, Gilberto Occhi, declarou à grande imprensa no meio do ano passado.

Logo após assumir o comando do banco, Occhi concedeu entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (Estadão) em 11 de junho de 2016 onde afirma que a instituição financeira não teria como continuar crescendo na geração de crédito e que havia chegado a uma “curva de declínio”. “Agora nossa curva de desaceleração está coincidindo com a do mercado”, disse ao jornal.

Na mesma entrevista Occhi ainda conta que a Caixa “entrou em linhas que não tinha expertise, como crédito rural e financiamentos a grandes empresas”. Assim, a política da instituição foi direcionada à redução do crédito, especialmente em operações à pessoa jurídica.

Em outubro do mesmo ano, o presidente do banco declarou ao The Wall Street Journal que a Caixa estava sendo afetada pela crise e chegou a citar a possibilidade de um aporte do governo se tornar necessário. A venda de ativos e serviços também foi cogitada por Occhi em todas as entrevistas.

Dionísio Reis, coordenador da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa), alerta que o que está em curso é um projeto para reduzir os bancos públicos. “Quando o governo, único acionista, diz que não vai capitalizar a Caixa, deixa claro que o objetivo é enfraquecer a empresa, provavelmente com o objetivo de privatiza-la. Outra prova do desmonte é o plano anunciado por Occhi, durante a divulgação do balanço de 2016, para diminuir o total de agências e fatiar as áreas de habitação, crédito e loterias”, observa.

Previsão insatisfatória

Mas talvez o que tenha provocado a surpresa foi a direção da Caixa fazer projeções ignorando completamente a conjuntura que ela própria havia constatado. Contraditoriamente, o presidente do banco, na mesma entrevista ao Estadão, estimou um aumento de 7,5% no crédito e disse crer que a economia do último trimestre de 2016 apresentaria tendência de crescimento. Previsão não tem sido o forte da Caixa. Errar 41% no resultado, convenhamos, não é surpresa.

Oportunismo

Mesmo reconhecendo que a crise econômica é responsável pelo resultado obtido pela Caixa em 2016 - além, claro, do redirecionamento da própria empresa - a direção jogou parte da culpa nos empregados. Apontou os gastos com pessoal como um dos motivos do balanço negativo. E na nota direcionada aos empregados culpou ainda a greve ocorrida no mês de outubro.

Desde sua posse, Occhi também afirmou em diversas oportunidades que seu objetivo era a redução de custos por meio de cortes em postos de trabalho e a realização de programa de demissão, além do fechamento de cerca de 100 agências consideradas “deficitárias”.  Agora, a direção do banco aproveita a situação para argumentar em favor de seu plano de cortes e atacar tudo o que puder. Com isso, a direção quer fragmentar a empresa, fechar unidades, desestruturar por dentro, cortar direitos no Saúde Caixa, não assumir responsabilidade no contencioso da Funcef.

Na sexta-feira (7), CEE/Caixa e direção da Caixa vão se reunir. Na ocasião, os representantes dos trabalhadores vão cobrar o pagamento da PLR com base no lucro líquido recorrente de R$ 4,967 bilhões e não no lucro contábil de R$ 4,137 bilhões. Caso a reivindicação seja atendida, tanto a PLR adicional quanto a PLR Social teriam aumento de cerca de 20%. A regra básica Fenaban também teria seu valor elevado.
 
A Comissão Executiva dos Empregados também vai cobrar esclarecimentos sobre a proposta de fechar entre 100 e 120 agências, anunciada por Occhi na terça-feira passada, bem como a respeito das mudanças planejadas no Saúde Caixa. Na reunião será mais uma vez reivindicada a implementação urgente das alterações discutidas no RH 184; a retomada do processo seletivo interno para os cargos de auxiliar, assistente e supervisor, suspenso no dia 9; e explicações sobre a mudança do instrumento de assédio moral.
 
Resistência
 
Diante da gravidade do momento, a CEE/Caixa orienta que os empregados da Caixa se unam aos sindicatos e definam a adesão à greve geral do dia 28 de abril contra as reformas da Previdência, trabalhista e a lei da terceirização. A defesa dos bancos públicos também estará no centro das paralisações, que vão se espalhar Brasil afora. “É fundamental que todos nós nos mobilizemos contra a escalada de ataques contra a Caixa, patrimônio do povo brasileiro”, frisa Dionísio Reis.

Fortalecer a Caixa é mera ilusão sob a gestão Temer/Occhi.

Só os trabalhadores é que conseguirão garantir a continuidade da Caixa.

Fonte: Fenae e Apcef-SP, com edição do Seeb Catanduva

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