08/11/2016

Bancários da Caixa Federal intensificam defesa pelo banco público

Os bancários foram os primeiros a enfrentar o governo golpista de Michel Temer, com uma greve que durou 31 dias, e essa capacidade de resistência certamente vai referenciar as lutas de outras categorias. Na Caixa, em especial, a greve foi forte e novamente mostrou a defesa do banco 100% público. Da mesma forma, será preciso resistir ao retrocesso que esse novo governo tenta impor à sociedade brasileira, e várias iniciativas ganham forma a partir das articulações do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas.

As avaliações são de Maria Rita Serrano, coordenadora do comitê, diretora sindical e representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa.

Leia, abaixo, a entrevista em que ela aborda o desfecho desta campanha salarial, relembra mobilizações dos anos 1990 e aponta novas ações para a defesa de empresas e serviços públicos. “Os bancários passaram por uma prova de fogo e mostraram aos banqueiros que resistir é preciso e possível”, afirma.

A campanha salarial 2016 foi atípica, com uma greve longa e os banqueiros tentando reeditar um modelo de proposta muito parecido com o dos anos 1990. Como você, que está no movimento sindical desde o final da década de 80, observa esse processo?
Maria Rita - Na verdade, a categoria bancária fez nesse ano a primeira greve de um governo golpista, apoiado por empresários e pela maior parte da imprensa. Um governo que já anunciou que vai privatizar o que puder e não está disposto ao diálogo com os movimentos sindical e social. Ou seja, um cenário muito diferente das últimas duas décadas, com reflexos em todas as instâncias, inclusive na Justiça, pois tivemos oposição da OAB em alguns estados, muitos interditos e até o pedido de prisão de uma presidenta de Sindicato (em Recife/ PE). Os banqueiros obviamente se sentiram muito fortalecidos com essa nova realidade e vieram então com a fórmula ultrapassada de oferecer abono e não conceder aumento real. Era o que faziam também no governo de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990.

Mas com esse retrocesso dos banqueiros na hora de negociar, pelo menos do ponto de vista financeiro houve perda para a categoria, que não obteve o repasse da inflação e aumento real nos salários. Qual é sua avaliação desse desfecho?
Do ponto de vista financeiro realmente há uma perda de 0,5%. Mas avalio que não saímos derrotados da greve, e sim de cabeça erguida. Muitas vezes, na década de 1990, fizemos greves e manifestações apenas para não perder, e não para ganhar. Na campanha atual conquistamos a garantia inédita de nenhum desconto sobre os dias de greve, a extensão da licença paternidade e, em 2017, repasse da inflação mais 1% de aumento real. A Caixa também ameaçou retirar a PLR social, mas conseguimos mantê-la. Além disso, tenho certeza de que nossa resistência, durante esses 31 dias de greve, impediu mais retrocessos por parte dos banqueiros e motivará outras categorias à luta. Os bancários passaram por uma prova de fogo e mostraram aos golpistas que resistir é preciso e possível.

E falando especificamente para os empregados da Caixa, onde você atua?
Veja, na década de 1990 os empregados da Caixa ficaram oito anos sem reajuste salarial. Nossas lutas do período, porém, garantiram a Caixa pública, enquanto centenas de empresas eram privatizadas, e uma mudança de estratégia que mais tarde levou à unificação das campanhas. Em 2002 o tíquete-refeição na Caixa era de R$ 50, enquanto nos bancos privados era de R$ 167,72. Tivemos uma evolução, mesmo quando as vitórias não eram imediatas. As lutas dos trabalhadores são assim mesmo, na briga “capital x trabalho” nem sempre o resultado aparece na hora, é preciso ter consciência de que não se pode desistir diante dos obstáculos, porque sempre foram e serão muitos. Ainda mais nesse momento.

Você se refere ao governo de Michel Temer?
Claro. O trabalhador que ainda não se deu conta que deve acordar, porque são muitas as conquistas ameaçadas por esse governo. Basta ver o que se está votando nesse momento no Congresso Nacional. Veja o caso da PEC 241, por exemplo, que congela por 20 anos o investimento público em saúde, educação e outras áreas sociais. É o povo, a sociedade quem vai perder esses serviços, abrindo espaço para que sejam assumidos pela iniciativa privada, que cobrará por eles. No caso da Caixa também há a ameaça de a gestão de recursos do FGTS passar para os bancos privados, acabando com o investimento desses recursos em moradia e obras de infraestrutura. E privatizações nas operações de loteria, seguros, cartões... Ou seja, não haverá mais Caixa pública. É por isso, para defender serviços e empresas públicas, que criamos a campanha “Se é público, é para todos”, lançada em junho passado e que já se espalhou por vários estados, chegando até a Argentina.

Além de dirigente sindical você também é representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, e uma nova eleição deve ocorrer em breve. Como vem sendo essa experiência?
É muito importante que os empregados da empresa tenham seu representante no conselho, sendo legitimamente eleito e cumprindo toda a responsabilidade que seu papel exige. Embora minoria, os conselheiros eleitos vão levar para aquele espaço o olhar dos empregados, suas necessidades e expectativas. E também trocar experiências com os demais integrantes, sempre com vistas a democratizar, fiscalizar, defender e garantir a sustentabilidade e integridade da Caixa como empresa pública. Quando se discute prioridades de gestão, orçamento, privatizações, entre outras, é fundamental que se coloque na mesa também a voz dos empregados, dando à discussão a dimensão humana e não apenas tecnicista. Durante toda a gestão da qual participo, levei o debate da Caixa que Queremos a vários pontos do Brasil, prestando contas e também promovendo essa discussão, que é fundamental para nós.
Fonte: Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas

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