Santander ganha clientes, demite e fecha agências
Tendência é de precarização do atendimento e maior intensidade do trabalho, mostra balanço divulgado na quinta 30
São Paulo – Apesar de milhões de clientes terem sido acrescentados na sua carteira, o banco Santander fechou milhares de postos de trabalho e quase uma centena de agências em 2013.
De acordo com os números do balanço anual da filial brasileira, o banco reduziu 4.371 empregos – 957 apenas nos três últimos meses –, fechou as portas de 94 agências, 128 postos de atendimento (PAs) e desativou 835 caixas eletrônicos, no ano passado. Apesar disso, a base de clientes do Santander chegou a 29,5 milhões, o que representou crescimento de 2,2 milhões em 12 meses.
Para a diretora executiva do Sindicato Rita Berlofa, os dados mostram que o banco mantém seus altos lucros com demissões e redução de custos, “fatores que, juntos, se refletem em clientes insatisfeitos e bancários doentes, já que as metas abusivas, e a pressão absurda para seu cumprimento, são as maiores causadoras de afastamentos por adoecimento mental na categoria bancária”.
Custo cai e tarifa aumenta – As despesas de pessoal do Santander tiveram queda de 0,8%, reflexo também das demissões. Os gastos com remuneração dos trabalhadores do banco, inclusive Participação nos Lucros e Resultados (PLR), diminuíram 1,7%.
Enquanto o Santander economizou com a redução de empregados, ganhou 10,3% a mais com receitas de tarifas e prestação de serviços, que atingiram R$ 10,674 bilhões.
Apenas com essa receita, o banco paga todo seu pessoal e ainda sobra. Mas, essa “sobra” foi maior, o que mostra que a instituição ganhou mais com tarifas do que investiu em pessoal, em 2013. Segundo análise do Dieese, só com receitas de tarifas e prestação de serviços, o Santander cobriu 147% do total das despesas com a força de trabalho. Em 2012, essa cobertura foi menor, de 133%.
Redução do crédito – O lucro da filial brasileira do banco foi de R$ 5,744 bilhões, 9,7% menor que o de 2012. Os números mostram que a redução é associada, em grande parte, a uma expansão muito pequena do crédito.
A maior parte dos empréstimos foi destinada a imóveis e a grandes empresas, linhas de menor risco. A carteira de pequenas e médias empresas teve queda de 7,6% e 2,0% no último trimestre. Em movimento contrário, a carteira de crédito de grandes empresas cresceu 19,3% em doze meses e 4,2% no trimestre.
Quanto aos empréstimos feitos à pessoa física, a alta foi de apenas 5,9% no ano e 2,4% nos três últimos meses, totalizando R$ 75,522 bilhões. Os produtos que explicam o aumento da carteira, nos dois períodos, foram o crédito imobiliário e cartões. O financiamento ao consumo totalizou R$ 37,849 bi, com alta de somente 2,8%, em doze meses.
A inadimplência teve queda de 1,8 pontos percentuais, ao passar de 5,5% para 3,7%, segundo o balanço divulgado.
Para a diretora do Sindicato, “embora a inadimplência tenha diminuído, o que vimos foi uma atuação muito conservadora do Santander, que não ajuda em nada a economia brasileira, que se movimenta com crédito, consumo, renda e produção”.
De acordo com Rita, o banco tinha condições de emprestar mais e com juros menores, mas preferiu manter seus ganhos em detrimento dos clientes e dos trabalhadores.
“O Santander, que é um banco sólido internacionalmente, deveria arriscar mais, reduzindo juros, aumentando e pulverizando o crédito, especialmente para o consumo e para a pequena e média empresa. Em um país com o potencial do Brasil, nada justifica essa redução de lucro. O problema é de gestão e somos nós trabalhadores que pagamos”, afirma.
A margem financeira bruta do Santander – aquilo que o banco ganha com operações financeiras – teve queda de 7,9%. As receitas oriundas das operações de crédito também caíram 8,5%.
Internacionalmente, o Santander quase dobrou seus lucros, ao fechar 2013 com EUR 4,37 bilhões. A alta foi de 90,5% em relação ao ano anterior, quando teve grandes despesas com insolvências no ramo imobiliário na Espanha. O Brasil responde por 23% do lucro global e é sua filial mais lucrativa.
Gestão reprovável – Para a dirigente sindical, a instituição financeira tem gestão criticável. “Além do assédio moral sobre os trabalhadores, denunciado dia a dia ao Sindicato, são muitos os fatos que nos fazem reprovar a gestão do banco, entre elas a posição desonrosa do Santander no ranking de reclamações junto ao Banco Central (BC)”, diz a dirigente, ao lembrar que o Santander esteve oito vezes no topo mensal das reclamações do BC, durante 2013.
“O banco insiste em reduzir despesas com corte de trabalhadores e desrespeito aos empregados. Santander foi o que mais demitiu em 2013, agravando a já existente falta de funcionários, notadamente na rede. Falta de funcionários, falta de treinamento e turn over alto é a combinação perfeita que faz instituição ser campeã em reclamação junto ao BC”, analisa Rita.
De acordo com a diretora do Sindicato, “as práticas adotadas vão de encontro ao discurso da empresa em que o foco é o cliente. E isso precisa mudar”.
Para Rita, a falta de treinamento tende a se agravar: “Basta ver a previsão para treinamento de pessoal, que só cai: teve queda de 1,1%, passando de R$ 141 milhões, em 2012, para R$ 139 milhões, em 2013”, destaca.
Escândalo – A diferença entre os salários dos altos executivos e dos trabalhadores de agências, como os dos caixas, por exemplo, é “escandalosa”, segundo a dirigente sindical. “Recentemente, o Sindicato recebeu denúncias de que o Santander reduz notas para pagar menos bônus aos trabalhadores. É um desrespeito.”
> Santander reduz notas para pagar menos bônus
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), um membro da diretoria estatuária do Santander ganha em média R$ 7,9 milhões ao ano, incluindo remuneração fixa, variável e a baseada em ações. “Isso representa 201 vezes a remuneração anual de um bancário que recebe o piso da categoria, incluindo o que ele recebe de PLR e de vales refeição e alimentação ao longo do ano”, compara Rita. “Pode não ser ilegal, mas é imoral! Isso tem que mudar!”
Para a diretora do Sindicato, “o banco deveria diminuir os ganhos do seu alto escalão, em vez de demitir e reduzir a remuneração de seus trabalhadores, que dependem do salário para sobreviver”.
Mariana de Castro Alves
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