01/12/2025
Violência digital contra mulheres: saiba o que é e como se defender
Não bastassem todas as formas já existentes de violência contra as mulheres – físicas, psicológicas, sociais e econômicas – a violência digital contra meninas e mulheres tem crescido em velocidade explosiva no mundo todo transformando celulares, redes sociais e ferramentas tecnológicas em novos instrumentos de agressão, perseguição e silenciamento. Em 2025, o tema é foco da campanha global “UNA-se para Acabar com a Violência Digital contra Todas as Mulheres e Meninas”, da ONU durante os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.
A mobilização no Brasil tem apoio da CUT, do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, movimentos feministas, de entidades da sociedade civil e do poder público, e busca chamar atenção para uma das formas de violência que mais avançam sobre o público feminino.
Leia mais: Campanha 21 Dias de Ativismo denuncia violência digital e luta das mulheres negras
Os 21 dias
Em nível global, originalmente a campanha da ONU é denominada “16 Dias de Ativismo” ocorrem entre 25 de novembro e 10 de dezembro. Mas, no Brasil, as ações começam antes, em 20 de novembro, destacando as interseccionalidades entre machismo e racismo, já que as mulheres negras são maioria entre as vítimas de agressões e feminicídios. Ao longo da campanha, o recado é de que “se a vida hoje acontece também no digital, a proteção às mulheres precisa acompanhá-la”.
Esse cenário, de acordo com a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino, está diretamente ligado às persistentes desigualdades estruturais. “A raiz desse problema está na forma como a sociedade ainda enxerga as mulheres, como corpos objetificados, como pessoas que não são respeitadas em suas posições e que têm seu acesso dificultado aos espaços de poder”, ela diz.
"Se a covardia da violência acontece na vida real, no mundo virtual é ainda mais fácil para o agressor praticá-la", destaca Amanda Corcino.
Terra de ninguém
O ambiente virtual, inicialmente visto como espaço de liberdade e participação, tornou-se terreno fértil para ataques. Os abusos são muitos vão do insulto à ameaça direta. Entre os principais tipos de violência digital contra a mulheres estão:
A mobilização no Brasil tem apoio da CUT, do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, movimentos feministas, de entidades da sociedade civil e do poder público, e busca chamar atenção para uma das formas de violência que mais avançam sobre o público feminino.
Leia mais: Campanha 21 Dias de Ativismo denuncia violência digital e luta das mulheres negras
Os 21 dias
Em nível global, originalmente a campanha da ONU é denominada “16 Dias de Ativismo” ocorrem entre 25 de novembro e 10 de dezembro. Mas, no Brasil, as ações começam antes, em 20 de novembro, destacando as interseccionalidades entre machismo e racismo, já que as mulheres negras são maioria entre as vítimas de agressões e feminicídios. Ao longo da campanha, o recado é de que “se a vida hoje acontece também no digital, a proteção às mulheres precisa acompanhá-la”.
Esse cenário, de acordo com a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino, está diretamente ligado às persistentes desigualdades estruturais. “A raiz desse problema está na forma como a sociedade ainda enxerga as mulheres, como corpos objetificados, como pessoas que não são respeitadas em suas posições e que têm seu acesso dificultado aos espaços de poder”, ela diz.
"Se a covardia da violência acontece na vida real, no mundo virtual é ainda mais fácil para o agressor praticá-la", destaca Amanda Corcino.
Terra de ninguém
O ambiente virtual, inicialmente visto como espaço de liberdade e participação, tornou-se terreno fértil para ataques. Os abusos são muitos vão do insulto à ameaça direta. Entre os principais tipos de violência digital contra a mulheres estão:
- Assédio sexual e moral
- Vazamento de imagens íntimas
- Deepfake pornográfico gerado por inteligência artificial
- Cyberbullying e discurso de ódio
- Perseguição e controle digital (cyberstalking)
- Doxxing (exposição de dados pessoais)
- Personificação e golpe emocional (catfishing)
- Sextorsão
- Monitoramento ou controle do acesso a dispositivos
Nota: Deepfake é uma técnica de inteligência artificial (IA) que permite criar conteúdo falso, mas altamente realista, como vídeos, imagens e áudios. O termo combina "deep learning" (aprendizagem profunda) e "fake" (falso). Essa tecnologia se tornou mais acessível com o avanço da IA e é utilizada tanto para fins inofensivos, como entretenimento, quanto para atividades maliciosas.
A utilização da inteligência artificial amplia o alcance do crime. De 90% a 95% dos deepfakes publicados no mundo são imagens pornográficas não consentidas, e 90% a 99% delas representam mulheres. O volume desses vídeos, apenas entre 2019 e 2023, cresceu 550%.
O impacto ultrapassa a rede. Esse tipo de violência impacta diretamente na vida das mulheres. “Essa violência não termina quando a tela se apaga. Ela atravessa a vida, a saúde mental e o trabalho dessas mulheres”, afirma Amanda.
Quem está mais exposta
As estatísticas globais são alarmantes:
- De 16% a 58% das mulheres já sofreram violência digital
- 38% relatam assédio online
- Jornalistas: 73% relatam ataques virtuais
- Parlamentares: 1 em cada 3 recebe ameaças
Quando as discriminações se somam, o ataque se intensifica. “Quando a desigualdade de gênero se encontra com o racismo, com a LGBTfobia ou com a xenofobia, o ataque se intensifica e tenta submeter essas mulheres ao silêncio”, destaca a dirigete da CUT.
Brasil: ódio organizado e números crescentes
Um estudo do Ministério das Mulheres com o NetLab/UFRJ identificou 76,3 mil vídeos misóginos no YouTube entre 2021 e 2024, somando mais de 4 bilhões de visualizações. No mesmo período:
- Feminicídios cresceram de 1.347 (2021) para 1.463 (2023)
- Casos de violência doméstica e familiar aumentaram quase 10% (2022–2023)
A Pesquisa Nacional sobre Violência contra a Mulher – DataSenado 2025 mostra que:
- 3,7 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica no último ano
- 10% sofreram violência digital
- 2% sofreram chantagem com imagens íntimas (o dobro de 2023)
- 79% acreditam que a violência contra a mulher cresceu
- 70% consideram o Brasil “muito machista”
As agressões se estendem por longos períodos: 58% das vítimas sofrem há mais de um ano. Em 71% dos casos, há testemunhas — e em 70% delas, crianças.
Plataformas que lucram com o abuso
A situação se agrava quando as redes afrouxam a moderação. Em decisão recente, a Meta, dona do Facebook, WhatsApp, Instagram e Youtube, flexibilizou regras de monitoramento sob o argumento de defender “liberdade de expressão”, criando um ambiente mais permissivo para discursos misóginos e peças de desinformação.
Como consequência, mais violência e menos responsabilização.
Em nível global houve reação. Graças à pressão de movimentos feministas, houve avanços. Entre eles:
- Pacto Digital Global da ONU (2024) — novos padrões para segurança digital e IA
- Convenção de Cibercrime da ONU (2024) — primeiro instrumento vinculante sobre violência digital
- Resolução da ONU (2024) — exige responsabilização das plataformas
No Brasil, a luta contra a violência digital contra a mulher é reforçada por leis específicas e pela inclusão de condutas criminosas no Código Penal, além de políticas e campanhas de conscientização. Veja abaixo:
Lei nº 14.192/2021 (Violência Política): Sancionada em agosto de 2021, a lei tipifica e coíbe a violência política de gênero, que pode ocorrer em meios digitais para desqualificar a participação de mulheres na política.
Lei nº 14.188/2021 (Violência Psicológica e Stalking): Esta legislação incluiu no Código Penal os crimes de perseguição virtual (stalking) e violência psicológica, que podem ser agravados se cometidos contra mulheres. (Em 2025, foi sancionada uma lei que aumenta a pena para violência psicológica contra a mulher com uso de inteligência artificial - deepfake).
Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006): Embora a Lei Maria da Penha tenha sido criada antes do avanço da internet, projetos de lei buscam incluir a violência virtual no escopo da lei, reforçando a proteção da mulher também no ambiente digital.
Além disso, há campanhas de entes públicos visando combater esse tipo de violência. Entre elas, a própria campanha “21 Dias de Ativismo”, além de apoio a vítimas. O Conselho Nacional de Justiça disponibiliza informações sobre como denunciar a violência, incluindo a violência digital, e mantém programas de apoio a mulheres vítimas. A rede de proteção conta com as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs).
Mas para Amanda, ainda é preciso regular o ambiente digital. “A ausência de uma regulação adequada da internet cria uma porta aberta para o ódio e a violência. A medida mais urgente é fazer com que plataformas não permitam que esses tipos de conteúdo sejam postados e, para além disso, excluam usuários que eventualmente pratiquem essa violência”, ela diz.
Como se proteger e denunciar
Diante de ataques digitais, Amanda orienta que é “fundamental denunciar, procurar ajuda, registrar tudo o que aconteceu”. Os principais canais no Brasil são:
- Ligue 180 — Central de Atendimento à Mulher
- Delegacias da Mulher e delegacias de crimes cibernéticos
- Ferramentas de bloqueio e denúncia nas plataformas
É preciso:
- Guardar provas — prints, links, datas e horários
- Apoio psicológico e redes de acolhimento
A Safernet Brasil, a ONU Mulheres e iniciativas como Take It Down auxiliam na remoção de conteúdos íntimos.
A defesa da vida digital também passa por:
- Senhas fortes e autenticação de 2 fatores
- Configurações de privacidade reforçadas
- Atualização constante dos dispositivos
- Cautela com envio de imagens íntimas
Compromisso coletivo: ninguém solta a mão de nenhuma mulher - on-line e off-line
Para o movimento sindical, a luta exige ação conjunta. “É preciso formar uma cultura de respeito também nos ambientes virtuais. Cidadania digital não é escolha, é obrigação de toda a sociedade”, diz Amanda, dirigente da CUT.
“Para nós, do Sindicato, não existe neutralidade quando o assunto é combater a violência contra as mulheres. Estamos presentes nas campanhas, nas mesas de negociação, nos processos de formação e em todas as iniciativas que ajudem a transformar essa realidade. Nosso compromisso é permanente: enfrentar o machismo, a misoginia e qualquer forma de discriminação, seja no ambiente de trabalho, na vida cotidiana ou no mundo digital. Seguiremos firmes ao lado das trabalhadoras, garantindo que nenhuma mulher esteja sozinha nessa luta”, reforça o secretário geral do Sindicato, Júlio César Trigo.
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