24/11/2025
Há trinta anos a primeira marcha LGBTQIA+ mudou o Brasil e marcou uma geração
Neste domingo, dia 23, o Rio de Janeiro marcou os 30 anos da primeira mobilização que, mais tarde, seria reconhecida como uma parada LGBTQIA+. O ano era 1995. Dois anos depois, São Paulo realizaria sua primeira edição, que se tornaria uma das maiores do mundo. A história que levou à criação dessas marchas, contudo, é anterior ao desfile na avenida. É uma trajetória de reorganização do movimento, reconstrução da autoestima coletiva e disputa por políticas públicas, num período em que assumir-se significava correr riscos concretos de violência, demissão, expulsão familiar e estigmatização.
A tradição das paradas no Brasil dialoga com marcos globais, como a marcha de Nova York de 1970, em memória à Revolta de Stonewall, mas ganhou contornos próprios ao se enraizar na redemocratização, na luta contra o HIV/Aids e no esforço por visibilidade. Até o início dos anos 1990, a maior parte das mobilizações brasileiras se concentrava em respostas à epidemia e na pressão por ações emergenciais do Estado. Faltava, porém, um formato nacional, público e de massa que ocupasse o espaço urbano com orgulho, cidadania e reivindicação.
1995: o Rio de Janeiro e a virada de chave
A Marcha da Cidadania, realizada em 25 de junho de 1995 na Praia de Copacabana, é o marco fundador das paradas no Brasil. O ato encerrou a 17ª Conferência Mundial da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA), trazida ao país graças à articulação do recém-criado Grupo Arco-Íris (fundado em maio de 1993) e do Movimento de Emancipação Homossexual Grupo Atobá.
A organização enfrentou dificuldades financeiras, receio de baixa adesão e um contexto social hostil. A tentativa anterior, em 1993, havia reunido menos de 30 pessoas. Era evidente que não bastava convocar uma marcha. Era preciso reconstruir confiança. Por isso, antes de chegar a 1995, ativistas investiram em eventos culturais e simbólicos, como o casamento público de Cláudio Nascimento e Adauto Belarmino (primeiro casamento gay celebrado no Brasil) e a “tarde de convivência” no MAM (Museu de Arte Moderna), que reuniu 600 participantes. Esses encontros deram o sinal de que o movimento estava pronto para ocupar a rua de outra forma.
A Marcha da Cidadania trouxe um elemento estético decisivo: a enorme bandeira arco-íris de 124 metros de comprimento por 10 de largura. Era aposta proposital de garantir que a imprensa tivesse uma imagem emblemática que publicasse nas capas de jornal. Funcionou. Pela primeira vez, a pauta LGBT saiu das páginas policiais e passou a ser noticiada nas editorias de política, cultura, economia e comportamento. A marcha também estabeleceu um modelo organizativo que seria replicado nacionalmente.
São Paulo: a consolidação na Avenida Paulista
O impulso do Rio chegou a São Paulo quase imediatamente. Em 1996, um ato na Praça Roosevelt reuniu cerca de 500 pessoas e serviu como embrião da primeira Parada LGBT paulistana, realizada em 1997 com aproximadamente duas mil pessoas. Inspirada inicialmente pelos desfiles europeus e norte-americanos, a parada cresceu de forma exponencial nos anos 2000, tornando-se um dos maiores eventos democráticos do planeta, com milhões de participantes.
Essa expansão só foi possível porque, no Brasil, as paradas se tornaram mais do que celebrações: tornaram-se dispositivos políticos. Reivindicam direitos civis, denunciam a LGBTfobia, fortalecem redes de apoio e pressionam governos. Ao combinar festa e luta, abriram caminho para conquistas no mundo do trabalho, nas políticas públicas e no reconhecimento social.
A força simbólica e política das paradas e o papel do movimento sindical
Essa dupla dimensão, de celebração e enfrentamento, é ressaltada pelo secretário de Políticas LGBTQIA+ da CUT, Walmir Siqueira, que explica como a visibilidade conquistada pelas paradas ajudou a transformar mentalidades, abrir espaços institucionais e fortalecer a luta por direitos.
“É importante a gente ter em mente o legado das paradas LGBTQIA+. Ao longo do tempo, elas foram decisivas para garantir visibilidade à população. Se no passado existia a necessidade de ‘ficar dentro do armário’ para evitar violências, hoje a situação avançou e precisa avançar ainda mais, especialmente no combate ao preconceito contra as camadas mais vulnerabilizadas, ou seja, as pessoas LGBTQIA+ pobres, as pessoas trans, as pessoas periféricas e todas as que fogem ao padrão heteronormativo ou cisnormativo e que são invisibilizadas e até criminalizadas”, diz o dirigente.
Ele destaca que as paradas foram fundamentais para reverter a lógica do medo, ajudando as novas gerações a crescerem em um ambiente social com menos estigma. Segundo ele, isso abriu portas no mercado de trabalho, na política institucional e nas políticas públicas, incluindo iniciativas do SUS, como programas de atenção à saúde LGBTQIA+ e o Sistema de Monitoramento Clínico das Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (SIMC), que fornece atendimento e tratamento gratuitos à essa população.
No entanto, Walmir pontua que todo esse processo não ocorreu sozinho. Teve forte participação do movimento sindical. “No movimento sindical, a ampliação da visibilidade se dá nos locais de trabalho, nas negociações, em campanhas com a CUT participando ativamente, ajudando inclusive a organizar as paradas, promovendo debates e lutas para melhorar as condições de trabalho e conquistar mais direitos”, diz Walmir.
Ele conta ainda que ao longo dos anosa CUT e seus sindicatos conseguiram incluir cláusulas em negociações coletivas, desenvolver campanhas e estimular inclusão. “Ainda falta muito, mas a luta é histórica: a CUT defende há anos igualdade, dignidade e respeito no mercado de trabalho”, diz o dirigente.
Ele lembra que esse acúmulo levou à criação da Secretaria LGBTQIA+ no último congresso da CUT, o que representou um marco institucional que fortalece a agenda em nível nacional e acelera a criação de estruturas estaduais.
“Assim como as paradas ampliaram visibilidade e abriram portas, essa inclusão no movimento sindical também avança. As paradas foram - e seguem sendo - momentos fundamentais de reflexão para que a sociedade entenda que a população LGBTQIA+ existe, merece direitos, e que direitos não são privilégios”, destaca Walmir Siqueira.
Walmir ainda lembra que as paradas LGBTQIA+ foram inspiração para que CUT fizesse a sua própria parada, com um recorte exclusivo para o mundo do trabalho.
“A primeira marcha de trabalhadores LGBTQIA+, que ocorreu em 2025, foi um momento histórico, um marco que deu início a uma mobilização que vai se repetir nos próximos anos e que vai dar ainda mais visibilidade para a nossa realidade no mundo do trabalho”, diz Walmir Siqueira.
30 anos depois: o debate sobre envelhecimento e cidadania
Passadas três décadas da primeira marcha no Rio, as paradas de 2024 e 2025 em todo o país têm destacado um novo tema: o envelhecimento LGBTQIA+. A pauta combate o etarismo, problema que exclui muitas pessoas da comunidade e agrava desigualdades já existentes.
“Discutir o envelhecimento da população LGBTQIA+ é enfrentar uma pauta que se impõe cada vez mais, e que exige de todas as instituições compromisso real com dignidade, respeito e justiça. Sabemos que, apesar de avanços importantes — desde políticas públicas que começam a olhar para essa realidade até conquistas que garantimos em nossa Convenção Coletiva de Trabalho — ainda há um longo caminho pela frente. A garantia de acesso à saúde sem discriminação, à renda, aos benefícios previdenciários e a ambientes verdadeiramente acolhedores precisa ser permanente e efetiva. Como entidade cidadã, o nosso Sindicato reafirma seu compromisso histórico com a defesa dos direitos humanos e com a construção de um mundo mais livre, seguro e justo para todos, especialmente para quem envelhece carregando as marcas da luta por existir e resistir”, destaca o presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Roberto Vicentim, que representa também a Fetec-CUT/SP junto à CUT e à Contraf no Coletivo LGBTQIA+.
A história das paradas mostra que cada fase do movimento responde às urgências do seu tempo, e que a rua segue sendo um espaço essencial para reivindicar cidadania plena.
A tradição das paradas no Brasil dialoga com marcos globais, como a marcha de Nova York de 1970, em memória à Revolta de Stonewall, mas ganhou contornos próprios ao se enraizar na redemocratização, na luta contra o HIV/Aids e no esforço por visibilidade. Até o início dos anos 1990, a maior parte das mobilizações brasileiras se concentrava em respostas à epidemia e na pressão por ações emergenciais do Estado. Faltava, porém, um formato nacional, público e de massa que ocupasse o espaço urbano com orgulho, cidadania e reivindicação.
1995: o Rio de Janeiro e a virada de chave
A Marcha da Cidadania, realizada em 25 de junho de 1995 na Praia de Copacabana, é o marco fundador das paradas no Brasil. O ato encerrou a 17ª Conferência Mundial da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA), trazida ao país graças à articulação do recém-criado Grupo Arco-Íris (fundado em maio de 1993) e do Movimento de Emancipação Homossexual Grupo Atobá.
A organização enfrentou dificuldades financeiras, receio de baixa adesão e um contexto social hostil. A tentativa anterior, em 1993, havia reunido menos de 30 pessoas. Era evidente que não bastava convocar uma marcha. Era preciso reconstruir confiança. Por isso, antes de chegar a 1995, ativistas investiram em eventos culturais e simbólicos, como o casamento público de Cláudio Nascimento e Adauto Belarmino (primeiro casamento gay celebrado no Brasil) e a “tarde de convivência” no MAM (Museu de Arte Moderna), que reuniu 600 participantes. Esses encontros deram o sinal de que o movimento estava pronto para ocupar a rua de outra forma.
A Marcha da Cidadania trouxe um elemento estético decisivo: a enorme bandeira arco-íris de 124 metros de comprimento por 10 de largura. Era aposta proposital de garantir que a imprensa tivesse uma imagem emblemática que publicasse nas capas de jornal. Funcionou. Pela primeira vez, a pauta LGBT saiu das páginas policiais e passou a ser noticiada nas editorias de política, cultura, economia e comportamento. A marcha também estabeleceu um modelo organizativo que seria replicado nacionalmente.
São Paulo: a consolidação na Avenida Paulista
O impulso do Rio chegou a São Paulo quase imediatamente. Em 1996, um ato na Praça Roosevelt reuniu cerca de 500 pessoas e serviu como embrião da primeira Parada LGBT paulistana, realizada em 1997 com aproximadamente duas mil pessoas. Inspirada inicialmente pelos desfiles europeus e norte-americanos, a parada cresceu de forma exponencial nos anos 2000, tornando-se um dos maiores eventos democráticos do planeta, com milhões de participantes.
Essa expansão só foi possível porque, no Brasil, as paradas se tornaram mais do que celebrações: tornaram-se dispositivos políticos. Reivindicam direitos civis, denunciam a LGBTfobia, fortalecem redes de apoio e pressionam governos. Ao combinar festa e luta, abriram caminho para conquistas no mundo do trabalho, nas políticas públicas e no reconhecimento social.
A força simbólica e política das paradas e o papel do movimento sindical
Essa dupla dimensão, de celebração e enfrentamento, é ressaltada pelo secretário de Políticas LGBTQIA+ da CUT, Walmir Siqueira, que explica como a visibilidade conquistada pelas paradas ajudou a transformar mentalidades, abrir espaços institucionais e fortalecer a luta por direitos.
“É importante a gente ter em mente o legado das paradas LGBTQIA+. Ao longo do tempo, elas foram decisivas para garantir visibilidade à população. Se no passado existia a necessidade de ‘ficar dentro do armário’ para evitar violências, hoje a situação avançou e precisa avançar ainda mais, especialmente no combate ao preconceito contra as camadas mais vulnerabilizadas, ou seja, as pessoas LGBTQIA+ pobres, as pessoas trans, as pessoas periféricas e todas as que fogem ao padrão heteronormativo ou cisnormativo e que são invisibilizadas e até criminalizadas”, diz o dirigente.
Ele destaca que as paradas foram fundamentais para reverter a lógica do medo, ajudando as novas gerações a crescerem em um ambiente social com menos estigma. Segundo ele, isso abriu portas no mercado de trabalho, na política institucional e nas políticas públicas, incluindo iniciativas do SUS, como programas de atenção à saúde LGBTQIA+ e o Sistema de Monitoramento Clínico das Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (SIMC), que fornece atendimento e tratamento gratuitos à essa população.
No entanto, Walmir pontua que todo esse processo não ocorreu sozinho. Teve forte participação do movimento sindical. “No movimento sindical, a ampliação da visibilidade se dá nos locais de trabalho, nas negociações, em campanhas com a CUT participando ativamente, ajudando inclusive a organizar as paradas, promovendo debates e lutas para melhorar as condições de trabalho e conquistar mais direitos”, diz Walmir.
Ele conta ainda que ao longo dos anosa CUT e seus sindicatos conseguiram incluir cláusulas em negociações coletivas, desenvolver campanhas e estimular inclusão. “Ainda falta muito, mas a luta é histórica: a CUT defende há anos igualdade, dignidade e respeito no mercado de trabalho”, diz o dirigente.
Ele lembra que esse acúmulo levou à criação da Secretaria LGBTQIA+ no último congresso da CUT, o que representou um marco institucional que fortalece a agenda em nível nacional e acelera a criação de estruturas estaduais.
“Assim como as paradas ampliaram visibilidade e abriram portas, essa inclusão no movimento sindical também avança. As paradas foram - e seguem sendo - momentos fundamentais de reflexão para que a sociedade entenda que a população LGBTQIA+ existe, merece direitos, e que direitos não são privilégios”, destaca Walmir Siqueira.
Walmir ainda lembra que as paradas LGBTQIA+ foram inspiração para que CUT fizesse a sua própria parada, com um recorte exclusivo para o mundo do trabalho.
“A primeira marcha de trabalhadores LGBTQIA+, que ocorreu em 2025, foi um momento histórico, um marco que deu início a uma mobilização que vai se repetir nos próximos anos e que vai dar ainda mais visibilidade para a nossa realidade no mundo do trabalho”, diz Walmir Siqueira.
30 anos depois: o debate sobre envelhecimento e cidadania
Passadas três décadas da primeira marcha no Rio, as paradas de 2024 e 2025 em todo o país têm destacado um novo tema: o envelhecimento LGBTQIA+. A pauta combate o etarismo, problema que exclui muitas pessoas da comunidade e agrava desigualdades já existentes.
“Discutir o envelhecimento da população LGBTQIA+ é enfrentar uma pauta que se impõe cada vez mais, e que exige de todas as instituições compromisso real com dignidade, respeito e justiça. Sabemos que, apesar de avanços importantes — desde políticas públicas que começam a olhar para essa realidade até conquistas que garantimos em nossa Convenção Coletiva de Trabalho — ainda há um longo caminho pela frente. A garantia de acesso à saúde sem discriminação, à renda, aos benefícios previdenciários e a ambientes verdadeiramente acolhedores precisa ser permanente e efetiva. Como entidade cidadã, o nosso Sindicato reafirma seu compromisso histórico com a defesa dos direitos humanos e com a construção de um mundo mais livre, seguro e justo para todos, especialmente para quem envelhece carregando as marcas da luta por existir e resistir”, destaca o presidente do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Roberto Vicentim, que representa também a Fetec-CUT/SP junto à CUT e à Contraf no Coletivo LGBTQIA+.
A história das paradas mostra que cada fase do movimento responde às urgências do seu tempo, e que a rua segue sendo um espaço essencial para reivindicar cidadania plena.
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