20/08/2025
Como 0,1% dos super-ricos do Brasil acumulou mais renda que 80 milhões de pessoas
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O Brasil viveu, entre 2017 e 2023, uma intensificação inédita da concentração de renda, especialmente entre os brasileiros super-ricos. Segundo estudo publicado no site FiscalData, com base nas declarações de Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), o grupo dos 0,1% mais ricos — cerca de 160 mil pessoas — capturou 85% do crescimento da renda no período.
A análise técnica elaborada pelos pesquisadores e economistas Sérgio Wulff Gobetti, Priscila Kaiser Monteiro e Frederico Nascimento Dutra mostra que a renda média da população adulta brasileira cresceu 1,4% ao ano acima da inflação. Já os super-ricos tiveram ganhos muito acima disso:
A análise técnica elaborada pelos pesquisadores e economistas Sérgio Wulff Gobetti, Priscila Kaiser Monteiro e Frederico Nascimento Dutra mostra que a renda média da população adulta brasileira cresceu 1,4% ao ano acima da inflação. Já os super-ricos tiveram ganhos muito acima disso:
- Top 1% (1,6 milhão de pessoas): crescimento anual de 4,4%.
- Top 0,1%: alta de 6,9% por ano.
- Top 0,01%: avanço de 7,9% ao ano — mais que o crescimento médio da economia chinesa no mesmo período.
Essa aceleração nos ganhos do topo da pirâmide elevou a parcela da renda apropriada pelo 1% mais rico de 20,4% para 24,3%, um recorde na série histórica da Receita Federal (iniciada em 2006). O 0,1% mais rico, por sua vez, passou a deter 12,5% da renda, mais do que os 50% mais pobres, que dividiram apenas 10% do total.
Super-ricos faturam com lucros e dividendos isentos, não com trabalho
A principal explicação para essa concentração está fora do contracheque: lucros e dividendos distribuídos por empresas, que são isentos de Imposto de Renda. Segundo o estudo, 66% do aumento da renda do 0,1% mais rico veio desses lucros, não do trabalho. Os super-ricos ganham, segundo os pesquisadores, R$ 516 mil por mês em média.
Ao mesmo tempo, a renda oriunda de salários e benefícios caiu entre os super-ricos, sinalizando um processo de pejotização — quando profissionais altamente qualificados abrem empresas para receber sua remuneração como pessoa jurídica, pagando menos imposto.
“O aumento da renda dos mais ricos é até superior ao crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] chinês”, destaca Gobetti.
Pejotização e isenções agravam desigualdade
A pejotização, combinada com a isenção de lucros e dividendos, contribui para um sistema tributário regressivo. Segundo os autores do estudo, o Brasil precisa de uma reforma urgente que torne o Imposto de Renda mais progressivo e desincentive estruturas artificiais de redução de imposto.
A proposta de criação de uma alíquota mínima de 10% de IR para rendimentos acima de R$ 600 mil/ano — conforme propõe o Projeto de Lei em tramitação no Congresso — é vista como um primeiro passo. Estimativas da Receita Federal mostram que, embora cerca de 700 mil pessoas estejam acima desse limiar, apenas 140 mil seriam de fato atingidas pela nova cobrança, pois já pagam menos que isso ou estão isentas.
Ricos lucram mais, mesmo com crescimento modesto do país
A pergunta central do estudo é: como os lucros dos super-ricos cresceram tanto se a economia brasileira teve desempenho modesto no período?
Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é que a alta dos preços internacionais de commodities, somada à inflação interna, impulsionou os lucros dos grandes empresários e exportadores — principalmente no setor agropecuário.
No Mato Grosso, por exemplo, a participação do 0,1% mais rico na renda do estado saltou de 9,7% para 17,4% de 2017 a 2023, quase dobrando.
Dados tributários mostram desigualdade invisível para a Pnad
O estudo destaca ainda as limitações das pesquisas domiciliares, como a Pnad Contínua, na medição da renda dos mais ricos. As informações da Receita Federal, extraídas das declarações de IRPF, captam com mais precisão a renda do capital, especialmente no topo.
A renda total do 0,1% mais rico é cerca de 12 vezes maior nos dados do IRPF do que na Pnad.
Para a base da pirâmide, os dados das duas fontes coincidem, mas a Pnad não enxerga com clareza o topo da pirâmide.
“O índice de Gini do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] não está vendo o que está acontecendo no topo. Ele registra corretamente que a renda dos mais pobres cresceu, mas ignora a aceleração entre os super-ricos”, aponta Gobetti.
Pobreza em queda, mas desigualdade estrutural persiste
De fato, os dados da Pnad indicam que a pobreza extrema caiu, especialmente com a retomada do Bolsa Família e o fortalecimento do mercado de trabalho.
Segundo estimativas da FGV Social, 6 milhões de pessoas deixaram a extrema pobreza entre 2023 e 2024. No entanto, esse avanço na base não neutraliza o agravamento da concentração de renda no topo.
A desigualdade, medida no agregado, permanece elevada e estrutural. A ascensão da renda dos mais pobres não foi suficiente para conter o efeito da expansão vertiginosa dos lucros entre os muito ricos.
Simulador mostra sua posição na pirâmide
O grupo FiscalData lançou também um simulador online que permite a qualquer pessoa verificar em que faixa de renda está. Com base na renda mensal declarada no IR, o sistema mostra se o usuário está entre os mais pobres, a classe média ou no grupo dos mais ricos.
Alguns exemplos:
- Renda mensal de R$ 30 mil: pertence ao 1% mais rico do Brasil e aos 2% mais ricos de São Paulo
- Para estar entre os 0,1% mais ricos, é necessário receber, em média, R$ 516 mil por mês
- Metade da população brasileira vive com menos de um salário mínimo por mês
Reforma tributária no horizonte
Com o projeto de taxação mínima para rendas altas em discussão no Congresso, o debate sobre a justiça fiscal e o papel do sistema tributário na redistribuição de renda volta ao centro da política econômica.

Para os autores do estudo, é hora de revisar os tratamentos privilegiados a certos tipos de renda no Brasil — como os lucros e dividendos isentos, a renda da atividade rural e os títulos financeiros com baixa tributação.
“A política tributária precisa voltar a desempenhar um papel mais ativo para enfrentar a desigualdade estrutural do país”, conclui o estudo.
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