09/10/2024

Santander é acusado de financiar empresas que desmatam a Amazônia brasileira

O desmatamento é, juntamente com a queima de combustíveis fósseis, a atividade que mais contribui para as mudanças climáticas. Mesmo assim, ecossistemas essenciais para a vida e para o clima seguem sendo destruídos todos os anos. Só entre 2014 e 2023 (anos em que o Acordo de Paris foi assinado e foram publicados os maiores relatórios científicos sobre o clima e a biodiversidade), bancos de todo o mundo destinaram pelo menos 515,7 bilhões de dólares a empresas ligadas à destruição da Amazônia brasileira e das turfeiras indonésias, de acordo com uma pesquisa acadêmica divulgada na última segunda-feira (7).

Intitulada “Interações do sistema financeiro com pontos de inflexão dos ecossistemas”, a pesquisa foi realizada pelo Instituto de Inovação e Propósito Público (IIPP) da University College London (UCL) e pelo Global Systems Institute (GSI) da Universidade de Exeter. A sua publicação chega também poucos dias depois de tomar conhecimento da decisão da Comissão Europeia de adiar por mais de um ano a aplicação da lei que proíbe a importação de matérias-primas como madeira, óleo de palma ou soja provenientes de áreas desmatadas.

Tanto a Amazônia brasileira quanto as turfeiras da Indonésia são ecossistemas essenciais porque ajudam a capturar enormes quantidades de dióxido de carbono que, de outra forma, acabariam na atmosfera, aquecendo o planeta. Da mesma forma, a sua destruição implica alterar o modo de vida de muitas pessoas e animais.

No total, a pesquisa detectou que 39 empresas dedicadas à produção de soja, carne bovina, óleo de palma e celulose para exportação estão potencialmente ligadas a mais de 300 mil hectares de desmatamento na Amazônia brasileira e a mais de 2 milhões de hectares de plantações agrícolas em turfeiras indonésias.

No entanto, para que as multinacionais possam fazer os seus negócios, elas precisam de dinheiro. E é aí que entram em jogo as instituições financeiras de todo o mundo, que as financiam através de empréstimos bancários, obrigações e outros instrumentos.

Entre os bancos que destinam dinheiro às empresas que desmatam há um espanhol que sempre se repete neste tipo de relatório: o Banco Santander.
 

Presidida por Ana Botín, a instituição financeira ocupa a 18ª posição em termos de entidades que fornecem e facilitam fluxos financeiros a empresas ligadas ao desmatamento na Amazônia, com cerca de 9,5 bilhões de dólares (2,1% do total, 455,5 bilhões de dólares). Para efeito de comparação, o primeiro da lista é o estadunidense Citigroup, com 4,6%.

O relatório também detalha algumas das empresas com as quais o Banco Santander mantém negócios. A principal delas é a brasileira Engelhart, dedicada ao comércio de matérias-primas, responsável pelo desmatamento de 432 hectares. O Santander proporcionou-lhe – segundo o relatório das universidades britânicas – um aporte de cerca de 793 milhões de dólares, a terceira entidade mais financiada.

Outras empresas com as quais o Santander está vinculado são as multinacionais de carnes Minerva e Marfrig. O relatório afirma que ambos estão relacionados com o desmatamento de respectivamente 33.289 e 28.171 hectares da Amazônia brasileira no período estudado. No caso da Marfrig, o Banco Santander é o seu quinto maior financiador (9,9%), com cerca de um bilhão de dólares.

Apesar dos números apresentados no relatório acadêmico, o Banco Santander afirma ter uma política rígida contra o desmatamento. Em declarações à Climática, defende estar há anos trabalhando “para apoiar a proteção da floresta amazônica”. Nesse sentido, diz que aplica medidas adicionais quando se trata de clientes brasileiros com operações na Amazônia, e que “caso seja identificada alguma ilegalidade, o Santander Brasil tem a faculdade de declarar o vencimento antecipado da dívida e exigir o seu pagamento”.

Da mesma forma, há alguns anos – asseguram as mesmas fontes – realizam-se “revisões diárias do desmatamento recente nas pecuárias e fazendas para as quais emitimos empréstimos, e esta verificação é realizada durante todo o tempo que dura o empréstimo” e “verifica-se que não ocupam terras indígenas oficialmente reconhecidas”. Porém, quando questionado sobre o conteúdo do relatório, o Banco Santander não quis comentar.

Leia a matéria na íntegra aqui
Fonte: Instituto Humanistas Unisinos, com edição de Seeb Catanduva

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