30/01/2020

Santander lucra R$ 14,5 bilhões, aumenta tarifas e reduz quadro de pessoal em 2019



O banco Santander obteve um Lucro Líquido Gerencial de R$ 14,550 bilhões em 2019, crescimento de 17,4%, em relação a 2018, e de 0,6% no trimestre, segundo análise realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base no balanço apresentado pelo banco na quarta-feira (29). O resultado foi positivamente impactado pela entrada de créditos tributários no montante de R$ 3,3 bilhões e pelas receitas de serviços e tarifas. A rentabilidade (Retorno sobre o Patrimônio Líquido Médio Anualizado – ROE) foi de 21,3%, com alta de 1,4 pontos percentuais em doze meses. O lucro obtido no Brasil representou 28% do lucro global, que foi de € 8,252 bilhões (com crescimento de 3% em um ano).

“A cada trimestre recebemos a notícia sobre o crescimento do lucro do banco Santander no Brasil. E isso se repete faz anos. O resultado é uma consequência do trabalho árduo realizado por bancários e bancárias, que se desdobram para realizar as tarefas que se acumulam”, afirmou o secretário de Assuntos Socioeconômicos e representante da Confederação nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) nas negociações com o banco, Mario Raia.
 
"Em um país com a economia enfraquecida e que ultrapassou o número de 12 milhões de desempregados, o Santander ignorou completamente sua responsabilidade como concessão pública e, consequentemente, sua função de fomentador do desenvolvimento econômico e social fechando mais de 1,6 mil postos de trabalho. O descaso com seus trabalhadores e clientes fica ainda mais evidente se levado em consideração as altas tarifas e juros abusivos cobrados da população. A filial brasileira teve um crescimento de 17,4% em relação a 2018. Com isso, passou a ser responsável por 28% do lucro global do banco espanhol", acrescentou o secretário geral do Sindicato dos Bancários de Catanduva e Região, Júlio César Trigo. 

Descaso com trabalhadores e clientes

O banco precisa parar com as demissões e contratar novos funcionários para recompor o quadro e atender melhor e mais rapidamente seus clientes. 

Um exemplo dos problemas de atendimento no Santander é o que ocorreu em Blumenau (SC), onde a principal agência do Santander foi fechada pelo sindicato local após trabalhadores terem sofrido ofensas e ameaças de clientes que reclamaram do tempo de espera para atendimento.

A holding encerrou o ano com 47.819 empregados, com fechamento de 193 postos de trabalho em relação a dezembro de 2018. No quarto trimestre houve redução de 1.663 postos de trabalho no banco. Foram abertas 45 agências em doze meses (11 no último trimestre do ano).

A receita com prestação de serviços e a renda das tarifas bancárias cresceu 8,1% em doze meses, totalizando R$ 18,7 bilhões. As despesas de pessoal mais PLR subiram 1,4%, atingindo R$ 9,5 bilhões. Assim, no ano de 2019, a cobertura dessas despesas pelas receitas secundárias do banco foi de 196,8%.

Carteira de crédito

A Carteira de Crédito Ampliada do banco teve alta de 11,9% em doze meses e 5,8% no trimestre, atingindo R$ 432,5 bilhões. As operações com pessoas físicas cresceram 17,2% em doze meses, chegando a R$ 155,3 bilhões, impulsionado por crédito consignado (25,6%), crédito imobiliário (14,7%) e cartão de crédito (13%). A Carteira de Financiamento ao Consumo, originada fora da rede de agências, somou R$ 58,2 bilhões, com crescimento de 16,3% em relação a 2018. Do total desta carteira, R$ 41,3 bilhões (87% da carteira) referem-se a financiamentos de veículos para pessoa física, apresentando aumento de 17,2% no período.

O crédito pessoa jurídica voltou a crescer em doze meses, alcançando R$ 138,5 bilhões, com variação de 12,9% em doze meses. O segmento de pequenas e médias empresas cresceu 15,4%, e o de grandes empresas cresceu 11,9%. Desconsiderando-se o efeito cambial, o crescimento seria 10,5% em doze meses. O Índice de Inadimplência superior a 90 dias ficou em 2,9%, com queda de 0,2 pontos percentuais, enquanto as despesas com provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD) subiram 26,7%, somando R$ 16,1 bilhões.

Veja abaixo a tabela com o resumo da análise do Dieese, ou, se preferir, leia o documento na íntegra.
 


 
Festival de escândalos marca o lucro do Santander em 2019
  • Escândalo 1: aumento expressivo do lucro em um país com a economia combalida
O resultado da intermediação financeira cresceu 15%. O resultado foi obtido por meio da cobrança de juros extorsivos de empresas e pessoas físicas, comprovando que o banco não faz parte da solução, mas contribui para agravar a crise ao não conceder crédito acessível, que poderia ajudar no crescimento da economia e na redução do desemprego.
  • Escândalo 2: fechamento de postos de trabalho em um país com mais de 12 milhões de desempregados
No último trimestre do ano, o Santander eliminou 1.663 postos de trabalho. Com isso, o banco terminou 2019 com 47.819 funcionários.

Além de cobrar juros extorsivos que endividam as famílias, sufocam o setor produtivo e inibem o crescimento econômico, o banco ainda contribui com o desemprego ao eliminar postos de trabalho. Isso em uma instituição financeira onde a sobrecarga de trabalho que gera adoecimentos é a regra, e que está no topo de reclamações de clientes ao Banco Central.
  • Escândalo 3: cobrança de tarifas e serviços (apenas) dos mais pobres e classe média
Enquanto o Brasil convive com o desemprego e com a redução da renda, por meio da cobrança de juros e tarifas extorsivas, o Santander retira ainda mais dinheiro dos seus clientes para aumentar os bônus dos executivos e os ganhos dos acionistas. Mas isso apenas dos clientes pobres ou de classe média, porque os clientes de alta renda não pagam por tarifas e serviços.

As receitas de tarifas bancárias e prestação de serviços alcançaram R$ 18,684 bilhões no ano, crescimento de 8,1% em doze meses.  As despesas com pessoal, incluindo PLR, somaram R$ 9,5 bilhões no ano de 2019, aumento de 1,4% em doze meses, mesmo com o reajuste da CCT tendo sido de 4,31%. Dessa forma, com receita de tarifas e prestação de serviços, o Santander cobre 197% do total de suas despesas de pessoal.
  • Escândalo 4: diferença de renda abissal entre trabalhadores e diretores executivos do Santander
Os diretores executivos do Santander receberam 765 vezes mais do que os escriturários em 2018, segundo dados da CVM, refletindo a desigualdade e concentração de renda verificada no Brasil, onde cinco bilionários brasileiros concentram a mesma riqueza da metade mais pobre no país, de acordo com estudo da Oxfam.
  • Escândalo 5: descumprimento da Constituição Federal
O artigo 192 da Constituição Federal determina que o sistema financeiro nacional seja “estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e servir aos interesses da coletividade”, fixando ainda um limite às taxas de juros reais.

“Não podemos aceitar passivamente essa situação. A sociedade precisa reagir e exigir redução de juros, tarifas e a manutenção de empregos que garantam qualidade de vida no ambiente de trabalho e fora dele a fim de amenizar ou erradicar o nível de estresse dos trabalhadores, proporcionando-lhes saúde e bem-estar”, acrescenta Rita Berlofa, presidente da UNI Global Union Finanças e bancária do Santander. 

Quanto às diferenças salariais, segundo pesquisa realizada pela consultoria Mercer em 130 países, nas 601 empresas analisadas, o empregado de alto escalão no Brasil ganha, em média, 34 vezes mais do que seu colega operacional. Nos Estados Unidos, onde a meritocracia é um dos maiores incentivos ao trabalho, o salário do executivo é 11 vezes o do operário. Em outros países como Alemanha e Japão, os valores são ainda menores: cinco e sete, respectivamente. 

“É por demais escandaloso que um executivo do Santander, aqui no Brasil,  chegue a ganhar até 765 vezes mais que um escriturário”, finaliza Rita.  
 
Fonte: Contraf-CUT, com informações de Seeb/SP e edição de Seeb Catanduva

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