10/11/2022

Balanço trimestral: Caixa apresenta maior concessão de crédito da história

O crescimento considerável de oferta de crédito que a Caixa Econômica registra nos resultados do terceiro trimestre do ano aponta para a instrumentalização do banco pelo atual governo, na tentativa frustrada de reeleger Bolsonaro. A avaliação é do dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Rafael de Castro, com base em números oficiais divulgados na quarta-feira (9).

Em doze meses, a Carteira de Crédito Ampliada do banco público teve alta de 16%, totalizando R$ 977 bilhões, com destaque para as operações comerciais com pessoas físicas que cresceram 22,6% e totalizaram R$ 133,6 bilhões.

“No período pré-eleitoral, a Caixa apresentou uma abertura dos cofres muito diferente do observado nos anos anteriores do governo atual. Claro que nós sempre defendemos uma Caixa indutora do desenvolvimento, que empresta mais às classes B, C e D, microempreendedores e pequenos empresários. Mas, a forma como isso ocorreu em tão curto período de tempo e diante da corrida eleitoral, preocupa”, pontua Rafael, que também é funcionário da Caixa e destaca o exemplo do controverso consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil, que atingiu R$ 5,5 bilhões de crédito até novembro, só na Caixa.

Essa movimentação que disponibilizou dinheiro para o mercado em quantidades consideráveis em curto espaço de tempo resultou, inclusive, em uma mudança significativa do Índice de Liquidez de Curto Prazo (RCL) que, em setembro de 2022, foi de 176% ante os 295,6% em setembro do ano anterior, o que aproxima a Caixa do índice registrado pelos maiores bancos privados, de cerca de 150%.

Matemágica

Além da oferta de crédito ampliada em tempo de eleição, Rafael destacou a falta de planejamento da atual gestão. “Durante esse período delicado, onde nos colocamos na linha de frente para não deixar de atender ao país e pessoas que mais precisam, o que contribuiu para que centenas de vidas de bancárias e bancários fossem ceifadas, assistimos representantes do primeiro escalão do banco usando a mídia para se gabar de resultados positivos, conquistados, em grande medida, a pressão exagerada sobre os trabalhadores. Isso é o que chamamos de ‘gestão do banco da matemágica’, termo que faz alusão às frases do ex-presidente [afastado por denúncias de assédio] Pedro Guimarães, sobre ser eficiente, denominando a Caixa como ‘banco da matemática’. Cada dia trabalhado nessa gestão foi um sufoco”.

O dirigente da Contraf-CUT destaca ainda que, apesar dos resultados positivos no balanço recente, as entidades que representam os trabalhadores da Caixa seguem registrando casos “de assédio moral”, onde os bancários trabalham em um estado de “pandemônio diário, sem saber o que a diretoria quer, com alterações bruscas e constantes de metas que extrapolam qualquer nível de tolerância aceitável e de forma jamais vista em nossa história”. Em paralelo a esse cenário, “sistemas não funcionam, computadores e terminais de autoatendimento frequentemente apresentam problemas”.

"O processo de precarização das condições de trabalho na Caixa, que se intensificou durante a pandemia, fica a cada dia mais evidente. Está  escancarado o projeto em curso para desmontar a Caixa, que chegou a ter 101 mil empregados em 2014 e agora tem menos de 85 mil. Com menos trabalhadores, agências são fechadas. Quadro de pessoal e estrutura menores resultam em atuação menor da empresa e mais adoecimento para a categoria. Há relatos de empregados que já trabalham sob o efeito de medicamentos controlados, já que desenvolveram quadros de ansiedade, síndrome do pânico, depressão e síndrome de burnout pela cobrança abusiva de metas e extrapolação da jornada. Valorizar os empregados é oferecer condições de trabalho adequadas", ressalta o diretor do Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, Antônio Júlio Gonçalves Neto.

Outros dados

No segmento de pessoas jurídicas, o crescimento de crédito comercial nos últimos dozes meses foi de 10,9% em relação ao mesmo período de 2021, totalizando R$ 89,7 bilhões, com relevo para as linhas voltadas às micro e pequenas empresas (R$ 57,5 bilhões). No balanço trimestral da Caixa, ocorre destaque também para o segmento de agronegócio, onde o aumento do crédito foi de 227,4%, totalizando R$ 40,3 bilhões.

As demonstrações financeiras apontam ainda que, nos nove primeiros meses do ano, a Caixa apresentou lucro líquido de R$ 7,6 bilhões, com diminuição de 45,9% em relação ao mesmo período do ano subsequente. Deste total, R$ 443 milhões foram resultado de receitas provenientes do desreconhecimento do passivo de juros e atualização monetária (contrato nº 504/PGFN/CAF), referente a devolução de valores de IHCDs (Instrumento Híbrido de Capital e Dívida) para o tesouro. Já a rentabilidade sobre o patrimônio líquido do banco (ROE) ficou em 9,23%, com decréscimo de 10,6 pontos percentuais (p.p.).

Confira aqui os destaques completos do balanço, apontados pela equipe da Subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).

Dedicação dos bancários

Em artigo de análise sobre os resultados recentes, a representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, ponderou que “mesmo em meio a ampliação drástica de denúncias de casos de assédio moral e sexual (…) e aumento nos afastamentos médicos na ordem de 45% no mesmo período; (…) mesmo em meio a pandemia, sofrendo pressão de todo tipo; os empregados da Caixa continuam na linha de frente atendendo milhões de clientes e de brasileiros e brasileiras desamparados pela crise social e econômica que o país atravessa. O compromisso com a gestão pública, expertise e dedicação são a marca dos trabalhadores da Caixa, que merecem respeito e valorização”.

“Trabalhar duro nunca foi problema para nenhum bancário da Caixa”, completa Rafael de Castro. “No futuro próximo, esperamos da gestão do banco diálogo, respeito e valorização dos trabalhadores. Queremos ser ouvidos e ajudar na reconstrução da Caixa que o Brasil precisa, porque conhecemos a realidade, as necessidades e as possibilidades de crescimento de fluxos e operações do banco, para apoiar no projeto de fortalecimento das empresas públicas em favor do desenvolvimento do país”, conclui.

O diretor do Sindicato, Tony Gonçalves, reforça que o banco precisa reverter o atual cenário, em benefício da redução do adoecimento entre os empregados, do melhor atendimento, diminuição das filas e da aglomeração, que inclusive aumenta o risco de contágio por Covid-19, que voltou a  preocupar nos últimos dias.  "E para isso, convidamos você a, juntos, reconstruirmos o banco de todos os brasileiros. O Comitê Popular de Luta em Defesa da Caixa está recebendo sugestões dos empregados da ativa e de aposentados. A ideia é que sejam avaliadas e consolidadas pelo próprio Comitê para depois serem entregues à equipe de transição do novo governo eleito. Os interessados em participar desse processo podem encaminhar as propostas por meio de formulário eletrônico (clique aqui para ter acesso). O prazo se encerra hoje, às 23h59. Participe!", convida o diretor.
Fonte: Contraf-CUT, com edição de Seeb Catanduva

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