Fila em agência da Caixa Econômica Federal na avenida Paulista, em SP, para retirar auxílio emergencial
(Foto Roberto Parizotti/FotosPublicas)
Entre janeiro de 2013 e outubro de 2020, os bancos no Brasil fecharam 78.155 postos de trabalho. Nesse período, foram registradas 303,7 mil demissões e 225,5 mil contratações de funcionários.
Esses números foram apurados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia.
Em todos os anos entre 2013 e 2020, o saldo de empregos foi negativo no setor. Segundo o levantamento do Dieese, publicado pela Folha de São Paulo, o ano que teve mais vagas fechadas foi 2016: foram 20,6 mil desligamentos a mais do que contratações.
Entrevistada pela Folha, a técnica do Dieese Bárbara Vallejos apontou a transformação tecnológica e digital como principal fator que tem levado ao enxugamento da estrutura nas instituições financeiras.
“É como se o setor tivesse constituído uma nova forma de fazer negócio, com um modelo mais enxuto e visando a redução de despesas”, afirmou.
Além das dispensas sem justa causa e dos pedidos de demissão, há ainda o caso da Caixa Econômica Federal, que em novembro abriu um Programa de Demissões Voluntárias (PDV). A intenção é enxugar seu quadro de funcionários em cerca de 10%.
“É preocupante o desligamento desses trabalhadores sem uma indicação do banco para a contratação de novos empregados”, ressalta o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto.
“Além de piorar as condições de trabalho, a falta de bancários pode prejudicar o atendimento à população; especialmente, neste momento de pandemia”, disse Takemoto.
Até o encerramento do último PDV, no último dia 20 de novembro, o déficit no quadro de pessoal da Caixa já superava 17 mil profissionais, de acordo com a Fenae.
Compromisso quebrado
No início da pandemia do novo coronavírus, os bancos firmaram um compromisso com sindicatos dos bancários de não demitirem funcionários na emergência sanitária. No entanto, o acordo não foi cumprido.
O levantamento do Dieese também revela isso. Nos primeiros dez meses de 2020, o saldo negativo no setor é de 8.086 vagas. E o mês com o pior saldo neste ano foi outubro, quando 5,6 mil postos de trabalho foram fechados, entre admissões e desligamentos.
Contra essa situação, o Sindicato dos Bancários de Catanduva e região, junto às demais entidades de representação da categoria, promoveu manifestações virtuais e atos públicos em frente às agências de sua base. Foi uma forma de pressionar os bancos e denunciar a população a exploração dos trabalhadores e dos próprios clientes, que pagam altas tarifas por um atendimento cada vez mais precarizado.
O último tuitaço foi no dia 18 de dezembro, que usou como mote a hashtag #QuemLucraNãoDemite. Na chamada para a campanha, o movimento sindical lembrou que somente as três maiores instituições privadas do país, Bradesco, Itaú e Santander, lucraram juntas R$ 35,7 bilhões nos três primeiros trimestres deste ano.
E, enquanto os bancos reduzem seus quadros de funcionários, as portas das agências bancárias do país registram filas diárias.
Para o presidente do Sindicato, Roberto Carlos Vicentim, os dados reforçam que o compromisso dos bancos é tão e somente com os lucros. “Não é por acaso que os bancos seguem sendo o setor mais lucrativo do país, mesmo em meio a uma crise econômica e sanitária que vitimou o mundo inteiro. É uma vergonha que, diante deste cenário caótico e lucrando bilhões, essas instituições sigam dispensando trabalhadores e comprometendo o crescimento econômico do país com o único objetivo de cortar custos da folha de pagamento e acumular ainda mais riqueza”, indigna-se Vicentim.
“Temos milhões de brasileiros na extrema pobreza, e que a partir de agora não podem contar mais nem com a ajuda do auxílio emergencial. A informalidade no mercado de trabalho também é recorde. Esse é o cenário de terra arrasada da política econômica ultraliberal do governo Bolsonaro. Enquanto os acionistas festejam resultados, o número de bancários desempregados aumenta, como mostra o estudo. E os que permanecem empregados estão vendo seus direitos serem minados todos os dias”, denuncia Vicentim.